Um bom compacto elétrico que, por decisão da marca, "ganhou" defeitos
A evolução na engenharia nos dá um cenário bem diferente do que foi no passado. Não há mais um gigantesco degrau entre bom e ruim em modelos do mesmo segmento e dificilmente temos carros condenáveis nas ruas. Mas e quando a própria marca comete um erro que prejudica um bom produto e tira seu brilho com algo que, na verdade, não era necessário?
A onda dos aventureiros já não é mais a mesma. Nisso, a JAC Motors apresenta o E-JS1 EXT, uma versão aventureira do compacto que, quando avaliamos sua versão normal, mostrou muitas qualidades e as primeiras evoluções que tanto comentamos sobre os chineses elétricos nos últimos anos. No pacote, a versão custa R$ 138.900, ou R$ 12 mil a mais que o E-JS1 normal. Afinal, quais os erros e acertos do pequenino JAC elétrico aventureiro?
O que há de bom? O original
Para relembrar, o JAC E-JS1 é um dos carros elétricos mais baratos do Brasil – hoje está atrás apenas do Caoa Chery iCar. Lembra do JAC J2, um subcompacto com motor 1.4 aspirado, vendido até 2015? É dessa base que nasce o E-JS1, com algumas adaptações para se tornar elétrico, bem perceptível quando abrimos o capô e temos um espaço gigantesco, preparado para um motor tradicional e na carroceria, principalmente nas portas, teto e algo até a coluna A – basicamente, uma nova dianteira e traseira para o E-JS1 no antigo J2.
Do J2 pro EJS-1, veio o que no Brasil foi chamado de IEV-20, mas o E-JS1 é um projeto mais refinado a partir do momento em que a Volkswagen faz uma Joint Venture que dá origem a Sol, depois Sehol, para modelos elétricos de baixo custo. A engenharia da empresa alemã faz ajustes nos veículos, mas são basicamente modelos da JAC. E nesse ponto o E-JS1 tem qualidades.
A base é a mesma do J2, que recebe um motor elétrico no eixo dianteiro com 62 cv e 15,3 kgfm de torque imediatos e, embaixo do carro, a bateria de 30,2 kWh úteis, perceptível que foi colocada abaixo dos bancos dianteiros para trás, em Fosfato de Ferro/Lítio, mais barata e resistente a temperaturas altas, mas com vida útil menor. A JAC no Brasil não trocou a tomada de recarga pela Tipo 2 que estamos acostumados a usar nos elétricos, mantendo o padrão chinês GB/T, ou seja, vai precisar de um adaptador para os wallbox e carregadores espalhados pelas ruas. Se você achar um carregador rápido com essa tomada, chega a 22 kW de recarga em DC.
Por dentro, os bancos dianteiros são altos pela presença das baterias logo abaixo. É uma posição bem elevada para o motorista, que consegue aproveitar bem a grande área envidraçada no trânsito, mas percebe um certo desconforto em um banco curto e, se for uma pessoa mais alta, menor espaço para a cabeça. O acabamento usa bastante plástico, com o jogo de cores, e não vai muito além do que encontramos em modelos do mesmo segmento. As peças são bem montadas, mas não demoram a reclamar com barulhos conforme o tempo passa.
O painel de instrumentos está em uma tela de 6,2″ que tem o que se precisa de informação de forma clara, mas a central multimídia de 10,25″ ficou devendo o espelhamento de smartphones, mesmo por fio, que não seja por um aplicativo terceiro não muito fácil de conectar ou usar. Os ajustes como do ar-condicionado estão nessa tela e poderia ser mais intuitiva e direta nos comandos e interface, falhas que outras marcas chineses começam a corrigir em seus modelos. No meio do console até parece um carregador por indução, mas é apenas um lugar para colocar o smartphone…e só.
No banco traseiro, espaço interno capaz de levar dois adultos, mas sem muita folga, até por suas dimensões compactas – mas é melhor que o iCar -, enquanto no porta-malas a capacidade é de 121 litros, o suficiente para carregar objetos no seu dia a dia, com mochila e o carregador do carro, além do adaptador que você terá que levar, sem escolhas.
Complicando as coisas com pequenas mudanças
Na mesma semana, tivemos o E-JS1 EXT e um “normal” em nossa garagem. Já conhecia o compacto em sua versão tradicional, que já tinha chamado a minha atenção em como era bom de dirigir. A direção leve é boa pra cidade, apesar de ainda precisar de um refino em velocidades mais altas, mas a suspensão tem um cuidado no acerto, sem aqueles barulhos de algo adaptado, além de relativamente confortável quando montado em suas rodas de 14″ com pneus 165/65 tradicionais e a suspensão sem alterações. Mais uma vez, um bom carro para a cidade.
Mas aqui vem o problema colocado do EXT. Em um carro elétrico, as montadoras procuram sempre pneus de baixa resistência a rolagem, leves e silenciosos, justamente por não ter ruídos e vibrações de outros componentes e seguir com isso. E chega a JAC com pneus Pirelli Scorpion ATR 175/70, nascidos para SUVs, com cravos, e suspensão elevada em um carro elétrico que, praticamente, nunca colocará as rodas na terra.
Tirei o E-JS1 EXT da zona de conforto e resolvi pegar uma estrada. Apesar de não ser seu ambiente favorito, até pela velocidade máxima de 105 km/h, mas pode ser usado em uma situação de emergência para uma viagem curta. Se prepare para ser ultrapassado e não ultrapassar, mas ele segue o caminho. Se em 100% o E-JS1 apresenta 300 km de autonomia na tela, nesse ritmo rodoviário, se prepare para algo na faixa dos 200 km. Na cidade, seu ponto de conforto, sua autonomia é de cerca de 280 km, considerando o uso do ar-condicionado. Dá para chegar aos 300 km? Dá, mas torça para que o ambiente te ajude.
Ele é bom, mas não esse
O JAC E-JS1 é um bom elétrico. Se não fosse a questão de sua tomada ainda não ser a mesma que a maioria dos carregadores usa, sua usabilidade seria ainda melhor, já que tem bom desempenho, boa suspensão e boa dirigibilidade. Mas o EXT não tem a mesma qualidade de rodagem justamente por usar os pneus que não foram feitos para elétricos em um carro que não irá para o fora-de-estrada.
Galeria: JAC E-JS1 EXT
E se colocar que se paga R$ 12 mil a mais por isso, vale menos a pena ainda. Se for olhar um JAC E-JS1 normal, aí sim dá para ter alguma conversa dentro da proposta de ser seu carro urbano, subcompacto, mas o tempo dos aventureiros já passou e, mais ainda, não se encaixam no mundo dos carros elétricos.
JAC E-JS1 EXT
Motor elétrico Motor síncrono de ímã permanente AC; tração dianteira
Potência e torque 62 cv; 15,3 kgfm
Bateria 30,2 kWh
Comprimento e entre-eixos 3.650 mm; 2.390 mm
Largura 1.670 mm
Altura 1.540 mm
Peso 1.180 kg em ordem de marcha
Capacidades porta-malas: 121 litros
Preço de entrada R$ 138.900
Autonomia elétrica cidade: 280 km (IEV)
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JAC E-JS1 EXT
- Motor elétrico: Motor síncrono de ímã permanente AC; tração dianteira
- Potência e torque: 62 cv; 15,3 kgfm
- Suspensão: McPherson na dianteira; eixo de torção na traseira; rodas de 14″ com pneus 175/70
- Bateria: 30,2 kWh
- Comprimento e entre-eixos: 3.650 mm; 2.390 mm
- Largura: 1.670 mm
- Altura: 1.540 mm
- Peso: 1.180 kg em ordem de marcha
- Capacidades: porta-malas: 121 litros
- Preço de entrada: R$ 138.900
- Autonomia elétrica: cidade: 280 km (IEV)