Foi um dia dos mais esquisitos para uma sexta-feira de treinos livres da F1. Aliás, treino, no singular. E aqui começa a primeira anomalia. A sessão que deveria abrir os trabalhos no Gilles Villeneuve teve apenas cinco minutos. Ou seja, nada. Tudo por conta de uma falha do circuito de interno de TV — por segurança, as atividades foram interrompidas e não foram mais retomadas. Por isso, o segundo treino ganhou 30 minutos a mais. E esse tempo foi fundamental para o que a tabela revelou ao fim das ações canadenses, em que a Mercedes apareceu surpreendentemente na frente.
Lewis Hamilton liderou uma interessante dobradinha com George Russell, ambos separados por somente 0s027. Alguém pode entender que tenha sido uma clara evolução, dada a versão atualizada do W14. Não é bem isso, mas há sinais positivos vindos da garagem dos octacampeões. Acontece que a equipe alemã optou por uma estratégia diferente de suas rivais, o que a colocou em uma posição ainda incerta na ordem de forças.
É que a esquadra decidiu usar os primeiros momentos do prolongado segundo treino para se dedicar ao trabalho de acerto do carro em condições de corrida, testando com alta carga de combustível. Portanto, passou abaixo do radar por boa parte das atividades. A tática também tinha como função aproveitar ao máximo a pista seca, uma vez que a previsão apontava para chuva, como acabou acontecendo no fim.
“Depois do treino livre 1, decidimos começar nosso programa no TL2 com trabalho de alto consumo de combustível antes de andar com pouco combustível. Isso foi para garantir que concluíssemos nossas corridas longas antes que a chuva esperada caísse”, explicou Andrew Shovlin, engenheiro da Mercedes. “Fomos um caso atípico a esse respeito e nosso trabalho com pouco combustível, portanto, se beneficiou de mais evolução da pista do que o resto do pelotão. Essa foi a razão predominante pela qual terminamos no topo das tabelas de tempos”, completou.
“No geral, o carro e os pneus funcionaram em uma janela decente durante a sessão. Há áreas em que precisamos melhorar, incluindo a tentativa de encontrar mais extremidade traseira para a volta única e ritmo de corrida”, acrescentou o britânico.
Portanto, há uma inteligente cautela quanto ao potencial da Mercedes. Mas isso não quer dizer que a equipe está fora da briga. A chuva prevista para a classificação é um elemento que deve mudar bem o cenário, o que vai também se refletir na corrida. E neste aspecto, é importante citar a Ferrari.
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Sainz fechou a sexta-feira no Canadá em terceiro (Foto: AFP)
A escuderia seguiu seu trabalho de análise das atualizações, sobretudo das peças que conduzem a uma boa eficiência aerodinâmica e velocidade. Mais uma vez, ficou claro que o desempenho em volta única continua sendo uma força. Desta vez, Carlos Sainz foi quem se colocou mais rápido, logo trás dos carros da Mercedes, deixando a impressão de que poderia fazer mais. Só que o que anima mesmo os ferraristas é a performance em condições de prova, que tem sido o calcanhar de Aquiles dos italianos.
A Ferrari se mostrou mais forte nesta sexta-feira. Apesar do quinto tempo, Charles Leclerc foi capaz de imprimir um ritmo consistente e muito próximo da Red Bull de Max Verstappen. Em média, a diferença entre os dois foi de menos de um décimo, com ambos rodando entre 1min17s5 e 1min17s6, com os pneus médios.
Mas se Mercedes e Ferrari terminaram o dia mais satisfeitas, a Red Bull fechou a tarde mais apreensiva. Só não se engane: os taurinos, sobretudo Verstappen, seguem favoritaços à vitória no domingo. O ponto é que a sexta-feira não foi tão tranquila como costuma ser. Verstappen esteve fora do top-5, e isso chama atenção. E se queixou das ondulações da pista e não se disse feliz com o acerto geral do seu RB19. É bem verdade que Max cometeu erros em sua simulação de classificação, mas isso não o afasta da pole amanhã. Talvez o que mais intrigue a equipe austríaca seja mesmo o ritmo de corrida, que ficou muito próximo da Ferrari e atrás da Aston Martin de Fernando Alonso.
Max Verstappen ainda não está totalmente contente com o carro da Red Bull no Canadá (Foto: AFP)
“Não foi uma sexta-feira normal. Felizmente, conseguimos fazer nossas voltas na segunda sessão de treinos. Acredito que ainda temos trabalho a fazer, porque o carro não está se comportando muito bem nas zebras no momento. Não está ruim, mas precisamos ajustar alguns acertos”, afirmou o holandês, sexto colocado da tabela.
E há ainda esse Alonso, que nunca pode ser descartado de nada. O bicampeão obteve o quarto tempo, pouco mais de 0s3 pior que Hamilton. A Aston Martin desembarcou no Canadá com um robusto pacote de atualizações, e a ideia foi testar o máximo possível. O espanhol terminou o dia como o dono da melhor simulação de corrida, andando na casa de 1min17s4. Ou seja, há muito jogo aí.
A ressalva fica apenas para a chuva. O sábado deve mesmo amanhecer chuvoso, e isso vai interferir diretamente na ordem de forças e estratégia para o domingo. Mas a corrida será com pista seca, o que acrescenta sempre uma dose de risco, o que vai separar vencedores de perdedores no Canadá.
O GRANDE PRÊMIO acompanha todas as atividades do fim de semana da Fórmula 1 no Canadá AO VIVO e EM TEMPO REAL. O TL3, neste sábado, está marcado para 13h30 (em Brasília). No sábado e no domingo, há também a segunda tela, em parceria com a Voz do Esporte.
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