Fugindo dos paradigmas do segmento, o novo Citroën C4 aposta em uma carroceria da moda, mas que ecoa o passado. Muito econômico, seu motor três cilindros aposta no conforto. E é candidato a ser fabricado no Brasil
Este novo Citroën C4 é muito bem-vindo. Afinal, seria triste ter um mundo desprovido de nuances. Onde todos os carros parecem gotas d’água, fotocópias que compartilham linhas, proporções e até detalhes. Se esse dia chegar – esperamos que não chegue –, teríamos poucas certezas. Uma delas, certamente, é o amor inabalável da Citroën pela originalidade. Um sentimento que se tornou, de 1919 até hoje, a verdadeira assinatura, estilística e não só, da marca. E certamente permanecerá assim agora que ela faz parte da Stellantis (leia aqui).
O novo Citroën C4, que é forte candidato a chegar ao Brasil muito em breve, com provável produção na fábrica de Porto Real (RJ) — leia mais aqui sobre os planos do grupo –, elogia a ideia original. E a supera, evoluindo propostas clássicas do seu segmento. Isso porque resgata traços estilísticos do passado mais ou menos recente da marca do duplo Chevron: o perfil arqueado das janelas laterais é inspirado no do primeiro C4, embora haja algumas referências ao Cactus (leia aqui), como na parte inferior das laterais. A primeira impressão ao vê-lo é a de estar na presença de um carro que quer tocar as cordas do dinamismo.
Aí você entra no Citroën C4, se senta, e logo entende que a aposta é outra – no conforto, o lado mais autêntico e verdadeiro deste novo Citroën. Em primeiro lugar, graças aos bancos, cuja costura em tecido traz à mente sugestões estilísticas ligadas a modelos como o GS e o BX: bem moldados, representam o paradigma da suavidade, e acomodam facilmente a maioria dos corpos. Proporcionando, mesmo com os ajustes manuais de série (também do apoio lombar), um excelente suporte para longas distâncias.
A cabine é acolhedora, embora desprovida de muitos luxos: o painel, feito na maioria com materiais rígidos, tem uma aparência meio tenebrosa e, à primeira vista, não agrada a todos. Mas, aos poucos, detalhes mais ou menos ocultos vêm à tona e as coisas mudam de figura. O porta-luvas à frente do passageiro não é suficiente?
Aparece uma gaveta deslizante com fundo emborrachado. Logo acima, um engenhoso suporte retrátil dedicado a tablets: assim, o passageiro dianteiro pode ver sua série de TV favorita sem incomodar o motorista. Quem dirige, por outro lado, deve se contentar com a pequena tela (6”) que atua como quadro de instrumentos: as informações essenciais estão todas lá, mas a interface não é ideal. Felizmente, um head-up display colorido é item de série.
O espaço para as pernas no banco traseiro é generoso, e ele ainda é bipartido e rebatível
A plataforma CMP, até agora usada apenas em carros menores (como o Peugeot 208, leia aqui a avaliação), garante medidas internas em linha com aquelas dos rivais. Como exemplo, o bom entre-eixos de 2,67 m deixa, em média, 30 cm para os joelhos de quem vai atrás. E se a largura na altura dos cotovelos não é referência, viajar em quatro não é problema. Porém, na hora de guardar a bagagem, é preciso tomar alguns cuidados: são pouco mais de 380 litros, e, por causa da superfície ajustável em altura, não há muita liberdade no transporte de objetos. As coisas melhoram se eles forem longos: neste caso, pode-se aproveitar da prática abertura no apoio de braços (de série).
O porta-malas acomoda 380 litros, menos do que em grande parte dos atuais SUVs compactos
Galeria: Citroën C4 (interior)
O suporte para tablets não interfere na abertura do airbag. À esquerda, o carregador sem fio (opcional) e o display colorido de 6”, um tanto confuso na disposição das informações. O sistema multimídia é fácil de usar: há práticos botões físicos para retornar à tela principal e para ajustar as configurações. Mas o botão direito, que controla o volume, fica um pouco longe do motorista
Tela sensível ao toque de 10”
Carregador sem fio
O painel tem a originalidade típica dos Citroën
Quadro de instrumentos colorido de 6”
Viagem suave
Mesmo do ponto de vista acústico, não há problemas de nenhum tipo, pelo menos rodando na cidade e em estradas vicinais. Em rodovias, no entanto, a 120 km/h ou acima disso, ouve-se certo ruído proveniente dos espelhos retrovisores. E a suavidade ao rodar não deve levar a crer que, ao aumentar um pouco o ritmo, o C4 se desequilibre com muita facilidade: podemos dizer que a aderência à estrada obedece a melhor tradição da marca – e, caso desejado pelo motorista, permite lidar com as curvas de modo decisivo, até mesmo nas estradas mais difíceis. Mas a verdade é que este Citroën não é um carro para quem busca fortes emoções ao volante.
Na verdade, se dependesse só do 1.2 turbo de 131 cv, não teríamos do que reclamar: elástico e disposto a girar, ele movimenta o C4 com brilho, como mostram os 10,6 segundos no 0-100 km/h. Já as retomadas são lentas em sexta marcha (são 18,5 segundos no 70-120 km/h), mas basta reduzir para retomar com vigor (o câmbio manual é bom, mas no Brasil a aposta seria no automático).
Quanto ao sistema de direção, no segmento de hatches médios e SUVs compactos/médios há modelos mais rápidos nas respostas e também os que comunicam melhor o que acontece com as rodas. Mas este C4 não pode ser desprezado, considerado seu conjunto: entre as nuances do sistema, há também qualidades apreciáveis em relação à progressividade e à precisão. Tudo isso é muito útil quando você se vê subitamente tendo que desviar de um obstáculo. Graças a um controle de estabilidade bem calibrado, o C4 passa entre os cones com segurança, sem envergonhar quem está ao volante. Um comportamento minimamente invasivo que também se vê na condução cotidiana: o sistema de manutenção em faixa limita-se a pequenas correções.
A suavidade é mesmo a marca deste Citroën C4 – que, como querem os consumidores, mais parece mesmo é com um SUV-cupê. Trata-se de um belo (literalmente) rival para os SUVs compactos da moda – e até alguns médios. Porque se na Europa ele substituiu o Cactus, aqui, como é maior e mais sofisticado, poderia ter a suspensão elevada e ser posicionado acima dele, como opção mais original e cheia de estilo a modelos que se propagam pelo mercado.
Citroën C4 Puretech 130 Shine
Preço básico (estimado) R$ 125.000
Carro avaliado (estimado) R$ 145.000
Motor: três cilindros em linha 1.2, 12V, duplo comando variável, turbo, injeção direta
Cilindrada: 1199 cm3
Combustível: gasolina
Potência: 131 cv a 5.500 rpm
Torque: 23,5 kgfm a 1.750 rpm
Câmbio: manual, seis marchas
Direção: elétrica
Suspensões: MacPherson (d) e eixo de torção (t)
Freios: disco ventilado (d) e disco sólido (t)
Tração: dianteira
Dimensões: 4,36 m (c), 1,80 m (l), 1,53 m (a)
Entre-eixos: 2,67 m
Pneus: 195/60 R18
Porta-malas: 380 litros
Tanque: 50 litros
Peso: 1.322 kg
0-100 km/h: 10s6*
Velocidade máxima:200 km/h*
Consumo cidade: 14 km/l*
Consumo estrada: 15,6 km/l*
Consumo nota A
Emissão de CO2 123g/km*
Nota do Inmetro: A (estimada)
Classificação na categoria: A (estimada, SUV grande) *testes da Quattroruote
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AVALIAÇÃO | |
Motor | 4.5 |
Câmbio | 4 |
Desempenho | 3.5 |
Consumo | 4.5 |
Segurança | 4 |
Equipamentos | 4.5 |
Multimídia | 4.5 |
Conforto | 4.5 |
Porta – malas | 3.5 |
Prazer em dirigir | 3.5 |
RESUMO
Bastante conforto e estilo em um carro promissor, que não se prende a fórmulas ou categorias. |
4.1
OVERALL SCORE |