ENQUANTO A FÓRMULA 1 ainda tenta se recuperar de um começo de ano dos mais bombásticos dos últimos tempos, há também um rapaz no grid que parece viver uma versão particular desse estrondoso início de 2024, porém de forma bem mais discreta e sem se abater. Só que, depois do GP da Austrália deste domingo, será impossível ignorar a jornada de Carlos Sainz. A inesperada vitória no Albert Park lhe dá o impulso que precisava não só para se vingar daqueles que preferiram abrir mão de seus serviços, como também para encontrar o próprio destino. O espanhol provou, mais uma vez, do que é feito.
Já é bem explorada a história que coloca Sainz no centro daquele turbulento 1º de fevereiro na F1. Antes mesmo de a temporada começar, a Ferrari já havia convencido Lewis Hamilton a se juntar a Maranello a partir de 2025, dispensando o dono do carro #55, que sequer teve tempo de tentar uma negociação para um novo contrato. Em questão de semanas, Sainz se viu sem plano B e com um campeonato inteiro pela frente, sem saber ao certo o que seria do projeto ferrarista.
E a Ferrari não titubeou. Enquanto Sainz era tratado no hospital, a equipe chamou o reserva Oliver Bearman para guiar o carro do #55. O jovem surpreendeu ao apresentar um ritmo forte e somar pontos. De volta ao paddock, apenas um dia após a operação, Carlos acompanhou dos boxes a estreia do britânico de apenas 18 anos. Foi um revés duro para o filho da lenda do Dakar. Mas eis que o fim de semana em Melbourne reservou uma nova e inesperada ascensão.
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O chefão Frédéric Vasseur conduziu uma forte preparação para a corrida no Albert Park. A ideia foi aproveitar os trechos de alta velocidade e o melhor equilíbrio da SF-24 para tentar capitalizar e se aproximar da Red Bull. Leclerc começou melhor ao liderar dois dos três treinos livres e deu pinta de que viria para uma briga intensa pela pole. Foi aí que Sainz emergiu. Embora ainda em recuperação física, foi capaz de classificação melhor e, da primeira fila, aproveitou a oportunidade que se abriu à frente, em movimento semelhante ao GPs da Itália e de Singapura do último passado.
É verdade que a Ferrari teve realmente um ritmo muito mais forte do que o apresentado nas duas primeiras etapas deste ano, mas também não dá para prever o que aconteceria se o neerlandês da Red Bull não tivesse deixado cedo a disputa. O fato é que a SF-24 tinha lá suas armas e, nas mãos de Carlos, a chance de uma briga mais parelha pareceu muito real.
Portanto, Sainz tem sido assertivo dentro e fora das pistas e está sabendo levar a demissão de maneira menos destrutiva. A frieza que lhe é peculiar também tem ajudado a atravessar essa fase e será ainda mais determinante para o novo capítulo de sua trajetória, que ganhou pontos importantes depois da atuação em Melbourne.
“Meu 2024 começou com a notícia da não renovação, depois chegou um bom pódio no Bahrein e eu disse para mim mesmo ‘tudo bem, a temporada está começando bem’. Mas aqui em Jedá tive de ir ao hospital, depois longos dias na cama com o ponto de interrogação em relação a Melbourne. Serei capaz de voltar à forma? E agora aqui estou, um vencedor. A vida, às vezes, parece uma montanha-russa, mas é por isso que aproveito o momento”, reconheceu o madrilenho. Está certíssimo.
Sainz é agora um perigoso agente livre no mercado e parece assumir também um papel-chave diante de marcas que possuem vagas em aberto, sobretudo Mercedes e Red Bull. A verdade é uma só: Carlos constrói, inteligentemente, um cenário no qual deve passar de dispensado a disputado, com toda a justiça, diante do que é capaz de entregar. Hoje, ele conquistou esse direito de escolher. Tanto que não será uma surpresa se já surgir aqui e ali uma questão que parece cada vez mais honesta: teria a Ferrari optado pelo piloto errado?
A Fórmula 1 retorna com a temporada 2024 em duas semanas, entre os dias 5 e 7 de abril, com o GP do Japão, em Suzuka.
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