LONDRES, REINO UNIDO (UOL-FOLHAPRESS) – A Ferrari foi a primeira das favoritas a mostrar seu carro para a temporada 2023 da Fórmula 1, o SF-23, depois da campeã do ano passado Red Bull ter feito o lançamento apenas da pintura. Mais do que isso: eles foram a única equipe a lançar o carro e já o colocar logo em seguida na pista na pista de Fiorano, que fica do lado da fábrica do time. Charles Leclerc foi o primeiro a andar. Embora a Mercedes também costume colocar o carro na pista no mesmo dia do lançamento, a Ferrari arriscou mais, já que fez isso ao vivo em transmissão por meio de suas mídias sociais.
“Percival, como está o carro?”, perguntou Sainz a Leclerc via rádio, chamando-o por um de seus vários nomes. “A sensação é boa”, respondeu o monegasco. “O carro é suave. Vira para a direita quando tem que virar, vira para a esquerda quando tem que virar. Tem potência. Você vai gostar.”
Leclerc deu duas voltas e Sainz deu outras três depois do lançamento. Desta forma, a Ferrari colocou o carro na pista sem usar um dos dois dias de filmagens aos quais tem direito, por força do regulamento. Isso porque Leclerc e Sainz não andaram mais do que 15km nesta terça-feira (14). Por isso, a atividade de pista é classificada como dia de demonstração e não dia de filmagem. Estes dias de filmagem têm limite de 100km e são usados pelas equipes para checar os sistemas do carro antes de levá-lo ao teste de pré-temporada, que em 2023 terá apenas três dias.
Os sidepods, ou laterais do carro, que eram bastante singulares no início do ano passado e que foram adotados por alguns times, agora contam com um recorte ainda mais profundo e uma saída de ar que não existia antes. Também há alterações visíveis na asa dianteira, que recebeu uma revisão completa, e na suspensão dianteira. Isso faz sentido porque um dos pontos fracos do carro do ano passado era o equilíbrio entre a dianteira e traseira. Muitas vezes, quando eles acertavam o carro de um lado, ele ficava muito arisco do outro.
Vice-campeã do ano passado, a Ferrari ao mesmo tempo evoluiu muito em relação às temporadas anteriores e ficou devendo ao longo do campeonato de 2022. As deficiências do time ficaram claras: o carro se adaptava facilmente a vários tipos de pistas, era rápido em uma volta lançada, mas não era tão eficiente quanto o Red Bull.
Parte disso vinha da configuração de asas que tinha de ser usada para compensar a falta de potência do motor. Essa deficiência, por sua vez, tinha raízes na falta de confiabilidade. Ou seja, para assegurar que o motor durasse mais, ele tinha de ser usado com menos potência. Para compensar isso, a Ferrari colocava menos asa na configuração aerodinâmica. Isso deixava o carro mais instável e desgastava mais os pneus.
Com o rendimento inferior, a pressão ficou em cima dos estrategistas para tentar defender as pole positions, e também dos pilotos. E os erros foram se somando de ambos os lados.
QUAL É O ESTILO DO NOVO CHEFE DA FERRARI?
No meio de tudo isso, o chefe Binotto caiu e Fred Vasseur chegou em janeiro para chefiar a equipe. O francês é pragmático, assim como Binotto, e também cultiva boas relações com seus pilotos e membros do time. Ou seja, não é de se esperar uma revolução em Maranello. Mas Vasseur vem com mais experiência na gestão de pessoas e com ideias novas de como o time pode operar melhor.
Um exemplo disso foi a maneira como foi decidido quem pilotaria o SF-23 primeiro. Sainz e Leclerc decidiram no cara ou coroa. E o primeiro daria duas voltas, enquanto o segundo teria direito a cinco. Mais igual, impossível.
No lançamento, Vasseur disse que seus primeiros dias no comando da Ferrari têm sido “intensos” e reconhece que, mesmo não tendo tido tempo de mudar muitas coisas na Ferrari, sabe que o único objetivo é vencer.
Motor mais potente e carro mais eficiente
Sobre a melhora do motor, ouviu-se muito nesta pré-temporada, como é de praxe nesta época. Fala-se em 30 cavalos “liberados” por mudanças feitas para melhorar a confiabilidade, lembrando que elas são as únicas que podem ser feitas agora que o desenvolvimento das unidades de potência está congelado até o final de 2025.
Isso colocaria a Ferrari mais próxima da Red Bull, mas o carro também precisa ser mais eficiente do ponto de vista aerodinâmico. Especialmente depois que as oscilações verticais (que causam os quiques) começaram a ser controladas pela FIA, a Ferrari ficou para trás. “Não é segredo que o motor não era nosso ponto mais forte ano passado. A janela em que o motor funcionava era muito pequena. Fizemos o trabalho que é permitido com o regulamento, melhoramos a confiabilidade, e acredito que estamos em uma boa posição agora”, disse Vasseur.
Para 2023, as bordas do assoalho foram levantadas por força do regulamento para diminuir esses quiques. A maneira como a Ferrari enfrentou esse problema será decisiva para sua temporada, pois em teoria isso tiraria ainda mais desempenho de um carro que já não se comportou bem quando foi levantado por força da diretiva técnica que passou a valer no final de agosto.
A Ferrari vai para a pista nos testes de pré-temporada da F1, entre os dias 23 e 25 de fevereiro, no Bahrein. A pista também recebe a primeira corrida do ano, dia 5 de março.