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Alonso enfim evita mão boba no gatilho em último mercado, mas decisão levanta dúvidas

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A maior interrogação do mercado de pilotos da Fórmula 1 2025 saiu de cena nesta quinta-feira (12): Fernando Alonso, de maneira totalmente repentina, anunciou a permanência na Aston Martin para um contrato plurianual. Com isso, fica a confirmação de que um piloto que passou a vida confortável para puxar o gatilho e promover mudanças no próprio destino sem muito apego resolveu sossegar e ficar com a certeza da comodidade. A decisão levanta outras dúvidas, é claro, mas uma coisa é certa: nada como o conforto para atravessar os anos dourados.

Se Alonso chegou à Aston Martin em 2022 e o novo acordo é de pelo menos dois anos, então serão não menos que quatro temporadas nos quadros da equipe inglesa. Isso quer dizer que Fernando viverá, entre as idades 41 e 45, um dos maiores stints de uma carreira notória pelas mudanças. Apenas uma vez durante as duas décadas passada é que Alonso teve um stint ininterrupto maior pela mesma equipe. Foi nos cinco anos de Ferrari, entre 2010 e 2014. O bicampeão teve oito anos pela Renault/Alpine é bem verdade, mas divididos em três passagens. A mais longa delas também durou quatro temporadas, entre 2003 e 2006, com direito aos dois títulos.

De acordo com o próprio Alonso, o acordo é para vários anos, mas será uma definição anual sobre o que fará na temporada seguinte. Na pista, mesmo, garante que será piloto titular nas temporadas 2025 e 2026. “De ano em ano, veremos qual será o meu papel. Mas estou muito confiante para 2026 e quero estar lá”, afirmou em entrevista à versão italiana do portal Motorsport.

Enquanto reinava sozinho, caminhando para ser bicampeão da Fórmula 1 e vendo Michael Schumacher se aposentar, durante a temporada 2006, Alonso não se furtou em deixar a Renault rumo à McLaren. Afinal, sabia que a fábrica francesa tinha limites orçamentários e não sustentaria a ponta da tabela por muito tempo. Após um 2007 conturbado na McLaren, quis sair, mesmo tendo nas mãos o melhor carro do grid. Voltou à Renault com discurso de que faria dois anos sabáticos, porque sabia que não seria campeão. Esperava a próxima grande porta se abrir, e assim foi: a Ferrari.

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Fernando Alonso fica por mais ao menos dois anos (Foto: Aston Martin)

Pelos lados de Maranello, Alonso esticou as mãos, brigou pelos títulos em dois anos frente ao poderio primeiro da Red Bull e depois, em 2014, já na era híbrida, contra a Mercedes. Era clima de fim de festa, e a Ferrari resolveu resetar tudo. Alonso estava de novo no mercado e, sem perspectivas de voltar a um carro capaz de vencer, ao menos de imediato, aceitou um retorno à McLaren, que assinava uma parceria com a Honda, de volta à F1.

Ficou rapidamente claro que a McLaren tinha dificuldades grandes. Por isso, Alonso quis fazer outras coisas. Até ficou fora de corrida da F1 para disputar as 500 Milhas de Indianápolis, com a anuência da equipe. Esticou a corda até ver que a situação estava travada, e foi fazer outra coisa da vida. Saiu da F1, ganhou Le Mans e o WEC, completou o Dakar e viveu outras facetas das corridas. Resolveu, após dois anos fora, que voltaria em 2021. Parecia um acordo derradeiro com a Alpine, na terceira vida pela Renault, mas ficou insatisfeito e surpreendeu a todos ao resolver trocar os franceses pela Aston Martin.

É importante elencar todas essas mudanças para reforçar que a decisão de Alonso ao fechar portas entreabertas de grandes equipes do grid e ficar com a Aston Martin é uma notícia colossal. A mão boba com dedo nervoso que Fernando sempre teve, saiu do gatilho. É hora de se sentir confortável.

“Estou aqui para ficar”, disse Alonso, em suma. O que garantiu, no fim das contas, foi que não quis sequer ouvir outras propostas e conversar com equipes rivais.

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Fernando Alonso e Mike Krack, chefe de equipe da Aston Martin (Foto: LAT Images)

“Há dois anos, estávamos num pequeno espaço que era a antiga fábrica da Jordan; hoje, temos uma estrutura de ponta e um túnel de vento novinho em folha que está quase concluído”, destacou.

É uma afirmação que começa a explicar a permanência — a análise vai comportar as questões de Red Bull e Mercedes, sem dúvidas, mas é importante tentar entender a permanência pela ótica do que encontra na Aston Martin. Há alguns anos que se sabe sobre a reformulação que o consórcio de Lawrence Stroll promove na parte estrutural, com demolição e reconstrução da antiga fábrica, hoje bem maior. Se antes havia apenas um prédio, agora são três: dois estão prontos, enquanto as obras do último se aproximam da fase final.

E trata-se de uma fábrica com material e tecnologia de última geração, inclusive o túnel de vento. Equipamento mais importante para trabalho aerodinâmico e mais caro para equipes terem nas respectivas fábricas, a Aston Martin também se aproxima da data de entrega do seu primeiro túnel de força da história. O plano é que esteja pronto para toda a construção do novo carro de 2026, sob novas regras. Será um túnel de vento mais moderno que aquele da Mercedes, por exemplo.

Mais do que isso, a Aston Martin, que atualmente é cliente da Mercedes, passará a receber motores Honda em 2026. Não apenas receber: será equipe oficial da Honda na F1, parceira sanguínea, conforme a Red Bull passa a caminhar com pernas próprias e apoio da Ford. O novo encontro entre Alonso e Honda se dá em situação completamente diferente daquela de 2015. A Honda não é mais uma nova que tenta nadar entre tubarões. É ela mesma um espécime temido do tubarão branco, campeã dos últimos três mundiais de Pilotos e dois de Construtores. E a caminho da conquista também em 2024, favorita desde já para 2025.

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Fernando Alonso no pódio da F1 ao lado de Max Verstappen (Foto: Red Bull Content Pool)

A relação de Alonso com a Honda foi esmerilhada naquela parceria com a McLaren como ponte. O ‘motor de GP2’ que o piloto proferiu no rádio justamente no GP do Japão daquele ano, na casa da Honda, só poderia culminar na força feita pelo próprio Alonso para decepar o acordo entre as duas. A Honda foi para o cenário da Red Bull, enquanto a McLaren fez rápido estágio na Renault antes do regresso à Mercedes com que passou tanto tempo entre os anos 1990 e o começo da era híbrida.

Tamanha a celeuma daquele momento, que a Honda impediu até mesmo que Alonso corresse as 500 Milhas de Indianápolis de 2020 pela Andretti, que usava dos motores japoneses. “Esse cara aí? Não queremos e tampouco aceitamos”. Mas, como o tempo cura dores, tudo ficou para trás. A Honda abriu as portas para Alonso, que vê na Aston Martin a chance de contar com motor verdadeiramente de ponta. Isso sem falar do dinheiro da Aramco, petrolífera nacional da Arábia Saudita, que torna a Aston Martin podre de rica. Os sauditas querem até comprar tudo, algo que não mudaria a estrutura uma vez que já estão por lá.

Das dúvidas que a decisão deixa, a menor delas é o motivo de Alonso ficar. Não é apenas um descarte das demais posições abertas ou a definição pelo conforto, mas claramente juma junção. Alonso acredita em tudo que viu ser construído nos últimos dois anos.

Aí, é necessário tratar de Mercedes e Red Bull também. Em primeiro lugar, a Mercedes, que efetivamente tem uma vaga aberta desde o anúncio de Lewis Hamilton na Ferrari. A Mercedes não se furtou em tratar Alonso como possibilidade na cadeia de sucessão. Faria sentido contar com um piloto veterano por um ou dois anos, enquanto a Mercedes faz aquilo que o mundo inteiro sabe que deseja fazer: preparar Andrea Kimi Antonelli.

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Mas por que é que a possibilidade não se mostrou interessante? Ser tapa-buracos por um ou dois anos, com período definido para ser chutado é algo que começa a explicar, mas o mais interessante é a perda geral de contornos nobres que a Mercedes vive na F1. O mundo inteiro percebe, afinal, que são três anos com carros decepcionantes, pouca conversa com os pilotos e, mais grave ainda, sem ter respostas sobre o que precisa para melhorar. Além de toda a conversa tida na boca pequena sobre a infraestrutura mercedista ser ultrapassada frente às rivais mais endinheiradas do grid. Em suma, porque Alonso vê Aston Martin em ascensão e a Mercedes, senão em queda, ao menos travada.

“Bem, a Mercedes está atrás de nós, então não parece um destino tão atraente”, tirou onda após a corrida no Japão.

Por fim, a Red Bull, onde aparecia como escolha de Christian Horner para, sobretudo, reforçar o poder interno que acredita ter. Na melhor das hipóteses, mostrar ao mundo que o comando de Horner é mais fundamental para a fase vencedora que o brilhantismo de Max Verstappen, mesmo que o tricampeão decida sair em algum momento do futuro.

Mas Alonso, aos 40 e tantos anos e mais de 20 de F1, não queria ser fruto de jogo político. Já está cansado de entender o ambiente da F1 para virar apito de cachorro, pois. Iria não para o lugar de Sergio Pérez, mas para o de Verstappen, se Max saísse de fato. Falou-se até em ultimato. Fato é que está claro que Verstappen não sairá de cena no time dos energéticos para o ano que vem. Agora, está claro. Alonso não estava disposto a encarar — não Verstappen, mas o desnecessário peso de ser o rosto na pista de um chefe de equipe em meio a acusações de comportamento impróprio. Não havia motivo para um desgaste assim.

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Fernando Alonso terá 45 anos quando temporada 2026 chegar ao fim (Foto: Aston Martin)

Mesmo que não volte a lutar por título, e daí? As mudanças da carreira inteira foram feitas pensando nisso e levaram a um jejum impensável para um dos maiores pilotos do mundo desde a virada do século. Agora, ao menos, escolhe o que vê e não o que projeta num sonho.

A Fórmula 1 volta a acelerar entre os dias 19 e 21 de abril, para o GP da China, retorno da etapa ao calendário pós-pandemia, com cobertura completa do GRANDE PRÊMIO.

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