Catártico. Este foi o sentimento principal após o fim do eP de São Paulo da Fórmula E, realizado no último sábado (16). Na segunda corrida da história da categoria no Brasil, Sam Bird deu um show de pilotagem e se mostrou sempre no controle — mesmo em uma das corridas de pelotão mais próximas de todos os tempos. No fim, a primeira vitória da McLaren na modalidade veio de forma surpreendente, lavando a alma de um dos velhos conhecidos da FE, que renasceu no Sambódromo do Anhembi.
A liderança de uma corrida de pelotão nem sempre é bom negócio, o que trouxe mais uma grande alternância entre os ponteiros em São Paulo: Wehrlein, Evans, Bird, António Félix da Costa, Jake Dennis — todos ocuparam a primeira posição em algum momento. O segredo, entretanto, é estar na ponta na hora que mais importa: a linha de chegada.
Para vencer uma corrida de pelotão, não é preciso apenas velocidade. Habilidade, controle, estratégia, arrojo, todos esses fatores são vitais para que se saiba a hora certa de acelerar e de regenerar energia, de liderar ou de abdicar da ponta para que outro piloto seja afetado pela resistência do vento.
O ‘velho Bird’ voltou a entrar em cena em São Paulo (Foto: Fórmula E)
E Bird, do início ao fim, deu uma aula. Consciente do que conseguia fazer na primeira metade da prova, o inglês passou a se defender apenas na última parte, alternando as linhas na pista para aproveitar o traçado de forma eficiente, regenerando a bateria, e para se defender das investidas de Evans.
Na última volta, enfim, veio a catarse. Um ano depois de evitar um ataque sobre Evans — então companheiro de equipe — no Anhembi, tentando consertar a imagem junto à Jaguar após bater no neozelandês em Hyderabad, Bird foi para cima. Mitch tentou repetir a estratégia de recuperar energia na penúltima curva, mas Sam claramente previu o movimento, colocou por fora e executou a ultrapassagem mais bonita da temporada.
Ultrapassagem sobre Evans na última volta foi a mais espetacular do ano (Foto: Fórmula E)
Alguns números ressaltam a importância da vitória de Bird em São Paulo. Além de conquistar o primeiro triunfo da McLaren na Fórmula E, o britânico voltou ao primeiro lugar do pódio pela primeira vez depois de 38 corridas. Foi a segunda vitória de um powertrain que não seja Jaguar ou Porsche nas últimas 16 provas, o que dá a dimensão do feito do piloto no Brasil. Foi sua 12ª vitória, o que o coloca atrás apenas dos recordistas Lucas Di Grassi e Sébastien Buemi — que têm 13 cada.
Depois de dois anos muito difíceis na Jaguar, a imagem de um dos maiores pilotos da Fórmula E ficou embaçada. Quando se falava de Sam, os primeiros pensamentos eram as dificuldades, o jejum de vitórias, as batidas em Evans, o acidente de Roma. São Paulo trouxe de volta o ‘velho Bird’, aquele que brigou pelo título da Fórmula E em tantas temporadas, aquele que vencia corridas em todos os campeonatos. Não apenas pela vitória, mas pela atuação espetacular, Sam comprovou os motivos de ter sido procurado pela McLaren. Que seu renascimento seja duradouro. A Fórmula E agradece.
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