Parecia loucura dizer que a McLaren seria uma das equipes que estarão mais próximas da Red Bull no início da temporada 2024. Isso porque, no ano passado, o time de Woking figurou entre os piores do grid durante as primeiras corridas, mas deu um salto surpreendente e terminou o Mundial de Construtores na quarta posição. Assim, é lógico imaginar que a boa sequência de resultados continue este ano.
Lando Norris e Oscar Piastri somaram apenas 17 pontos nas primeiras oito etapas em 2023. Após as atualizações feitas no MCL60 durante o fim de semana do GP da Áustria, em julho, a escuderia laranja-papaia encontrou uma nova base para o seu conceito e seguiu fazendo pequenas melhorias no bólido. Se considerarmos as últimas 14 provas, desde a realizada no Red Bull Ring até o GP de Abu Dhabi, a esquadra comandada por Andrea Stella somou um total de 285 pontos — mais do que Mercedes (242) e Ferrari (284), segunda e terceira no Mundial, respectivamente. Fechando o ano com nove pódios e uma vitória na sprint do GP do Catar, todos os olhares estão voltados para o que mais a McLaren pode aprontar.
A equipe comandada por Zak Brown está apresentado melhorias em todas as áreas, desde a contratação de novos membros para o time técnico, passando pela fábrica e chefia nos boxes, até a renovação dos contratos dos pilotos. De fato, parece que há um plano bem estruturado em curso, o que coloca a icônica marca inglesa em uma boa posição para o futuro.
O MCL38, apresentado ao mundo oficialmente no dia 14 de fevereiro, mostrou alguns detalhes inspirados nas rivais, mas sem deixar de ter um estilo próprio. Em relação ao ano passado, é possível notar uma asa traseira em formato mais quadrado, como também a opção pelo uso das barbatanas na tampa do motor. A entrada de ar também se aproxima ao formato do RB19 da Red Bull, ficando mais alta no desenho do carro e mais reta, sem a boca alongada. A asa dianteira está um pouco mais suspensa, enquanto o bico, mais arredondado, mas não tanto quanto na maioria dos outros carros apresentados.
McLaren aposta no MCL38 para ser mais competitiva em 2024 (Foto: McLaren)
Mesmo com as melhorias desenvolvidas durante a intertemporada, Andrea Stella deixou claro que um pacote de atualizações já está pronto para ser introduzido após o Bahrein, palco dos testes de pré-temporada e também da primeira etapa do Mundial.
O foco da McLaren no desenvolvimento do novo modelo está em três pontos: eficiência aerodinâmica, aderência em curvas de baixa velocidade e a interação do carro com os pneus. Todas as áreas foram reforçadas, mas a equipe inglesa vê que ainda há trabalho a ser feito.
Pode parecer algo comum em um primeiro momento, mas a declaração de Stella deixa claro que a McLaren entende perfeitamente o seu projeto e em qual direção o time quer seguir. Não há tiro no escuro aqui: não vão esperar os resultados das primeiras corridas para discutir quais mudanças devem acontecer — a equipe técnica já sabe quais são os pontos fracos e, principalmente, sabe como melhorá-los.
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O novo túnel de vento da McLaren (Foto: McLaren)
O próprio Centro de Tecnologia da McLaren (MTC) tem passado por melhorias constantes nos últimos anos. Recentemente, novas ferramentas foram desenvolvidas para auxiliar os engenheiros na construção dos carros de Fórmula 1 da icônica marca fundada por Bruce McLaren. Entre elas está uma de extrema importância: o túnel de vento.
Sim, até pouco tempo atrás, a McLaren não possuía seu próprio túnel de vento. E estamos realmente falando de pouco tempo — alguns meses, na verdade. Desde 2010, a esquadra inglesa utilizava a estrutura da Toyota, localizada na Alemanha, depois de entender que estavam defasados em termos de tecnologia. A situação mudou completamente na metade do ano passado, quando a equipe anunciou o término das obras e inaugurou o próprio túnel de vento.
O mesmo foi utilizado pela primeira vez antes da pausa de verão da categoria, em 2023, para trabalhos básicos de correlação. Apesar do MCL38 ter se beneficiado dessa nova instalação — e as atualizações serão provenientes dela —, o carro de 2025 será o primeiro a ser totalmente projetado com a nova ferramenta. Além do túnel de vento, a McLaren realizou outras melhorias em infraestrutura, incluindo um novo simulador, a reutilização de uma antiga fábrica como uma instalação de materiais compostos, e uma nova oficina de máquinas. Mas do que adiantariam as tecnologias se a equipe não tivesse também pessoas capacitadas? É claro que a McLaren tem investido muito nisso também.
Em março de 2023, quando ainda atravessava um momento delicado na temporada, a equipe inglesa anunciou reformulação total no departamento técnico. Ao invés de ter apenas um diretor, a equipe passaria a ter três, onde os mesmos se reportariam diretamente ao chefe da esquadra, Stella. A grande vítima das mudanças foi James Key, que deixou a escuderia laranja-papaia para dar lugar a David Sanchez, ex-Ferrari, que chegou para ser o responsável pelo conceito e desempenho do carro.
Zak Brown apresentou os novos reforços do departamento técnico da McLaren (Foto: Reprodução/Twitter)
Tanto Sanchez quanto Marshall, no entanto, precisaram respeitar o chamado ‘período de carência’, ou ‘quarentena’ e só puderam começar, de fato, o trabalho no time de Zak Brown em janeiro de 2024. Lá, a dupla vai atuar ao lado de Peter Prodromou, da área de aerodinâmica, e Neil Houldey, diretor de engenharia e design.
Toda equipe precisa de um líder, e a McLaren encontrou o seu em Stella. Ninguém imaginava que o responsável por tamanha mudança estava dentro da própria escuderia esse tempo todo.
O italiano chegou à Woking em 2015 para assumir a função de chefe de operações de corrida. Antes disso, trabalhou durante 15 anos para a Ferrari e acompanhou de perto pilotos como Michael Schumacher, Kimi Räikkönen e Fernando Alonso.
Andrea Stella se tornou chefe de equipe da McLaren em 2023 (Foto: McLaren)
Na McLaren, Stella ainda desempenhou o papel de diretor de performance e, logo em seguida, diretor de corridas. Em dezembro de 2023, quando Andreas Seidl decidiu mudar de ares e se tornar responsável pelo processo de transição da Sauber para Audi, Andrea foi promovido a chefe de equipe. O italiano transformou o time na segunda força do grid em apenas seis meses.
Zak Brown, ‘poderoso chefão’ da McLaren, chegou a dizer que a liderança de Stella foi o principal motivo das melhorias vistas no MCL60 ao longo da temporada passada. O executivo americano elogiou a mentalidade vencedora implementada pelo comandante em todas as pessoas da fábrica e destacou o estabelecimento de metas, a direção, clareza e liderança como pontos-chaves de sua gestão.
De fato, o chefe da equipe parece ter o apoio de todas as pessoas do grupo e também o amplo conhecimento de tudo o que acontece em todos os setores responsáveis pelo desenvolvimento do bólido laranja.Não há motivos para crer que será diferente em 2024. Stella pegou a McLaren pela mão e está levando por um caminho ousado, mas seguro. Ele sabe exatamente aonde quer chegar e o que deve ser feito para alcançar o objetivo.
Não só o apoio na fábrica, mas também nas pistas: Andrea conquistou a confiança do ainda jovem, mas experiente, Lando Norris, e também de Oscar Piastri, que fez a estreia na categoria em 2023. Desde o projetista, que rabisca as primeiras linhas da aerodinâmica, até o piloto, que prova o resultado de todo o processo na realidade — todos estão comprometidos com o caminho traçado pelo italiano. Stella tem tudo para fazer seu nome e se tornar um dos grandes da categoria caso consiga, de fato, desenvolver uma McLaren competitiva nos próximos anos.
Em relação aos pilotos, a McLaren tem, incontestavelmente, uma das duplas mais fortes do grid e com um futuro promissor pela frente. Norris tem apenas 24 anos de idade, mas já é muito experiente na F1. O britânico estreou na categoria em 2019, sempre vestindo as cores da McLaren. Antes de ter Piastri ao seu lado, já havia sido companheiro de equipe de Carlos Sainz e Daniel Ricciardo, mas sempre visto como o pupilo do time e futuro campeão mundial. Temendo a aproximação de outras equipes, Zak Brown agiu rápido e renovou, no início de 2024, o contrato de Lando em um acordo “plurianual”.
Um movimento lógico da escuderia, já que Norris é um dos mais talentosos. O fato de ainda não ter conseguido vencer na F1 não é totalmente responsabilidade dele, já que a McLaren nunca lhe deu um carro realmente competitivo para subir no degrau mais alto do pódio. Em 2023, porém, essa história começou a mudar.
Se tudo der certo, Norris não terá mais desculpas. Embora se espere uma melhora das rivais, há um limite de desempenho no regulamento que fará com que o grid fique mais próximo e, assim, a chance da primeira vitória na categoria pode aparecer. Quem, porém, já venceu, ao menos em uma sprint, foi o australiano da garagem ao lado: Piastri.
A contratação do #81 foi um tiro certeiro no alvo. Vencedor da Fórmula 3 em 2020 e da Fórmula 2 em 2021, o jovem de Melbourne não quis esperar pela oportunidade na Alpine e decidiu embarcar no carro laranja quando Ricciardo teve o contrato rescindido. E o pupilo de Mark Webber não decepcionou: em sua temporada de estreia, Oscar somou 97 pontos, subiu no pódio em duas oportunidades e ainda venceu a sprint no GP do Catar.
McLaren deixou uma primeira impressão positiva durante os testes no Bahrein (Foto: McLaren)
Sabendo do talento do rapaz, Brown mais uma vez não dormiu no ponto e garantiu Piastri até, pelo menos, 2026. O novo acordo foi firmado no ano passado, quando a primeira temporada de Piastri ainda não havia nem chegado ao fim. Isso só demonstra a confiança que a McLaren possui nele, e que o piloto de 22 anos vai retribuir quando tiver a oportunidade.
Com um pacote tão recheado de qualidades, desde os engenheiros até os pilotos, a McLaren prova que o futuro é promissor. Não é possível cravar com exatidão quando os frutos serão totalmente colhidos, mas os primeiros resultados já apareceram.
Os testes coletivos de pré-temporada realizados no Bahrein na última semana mostraram que a Red Bull larga na frente, mas a divisão de forças no resto do pelotão ainda está em aberto. Embora Ferrari e Mercedes tenham dando um salto positivo, o time laranja-papaia possui uma base consolidada o bastante para não ficar atrás nessa disputa e tentar se tornar a principal rival da marca de energéticos ao longo de 2024.
A Fórmula 1 abre a temporada 2024 no próximo fim de semana, entre os dias 29 de fevereiro e 2 de março, com o GP do Bahrein. O GRANDE PRÊMIO transmite classificação e corrida em segunda tela, em parceria com a Voz do Esporte, na GPTV, o canal do GP no Youtube. Além disso, debate tudo que aconteceu na pista com o Briefing após cada dia de atividade.
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