O pequeno Avenger brilhou em Paris como primeiro SUV elétrico da Jeep, mas a marca prepara também a próxima geração de seu irmão maior Renegade. Ambos serão vendidos lado a lado (e ambos terão versões a combustão)
Em outubro, o Jeep Avenger fez sua primeira aparição pública no Salão de Paris (França), mas o primeiro modelo 100% elétrico da marca não representa uma virada radical para a eletrificação total, como em outras montadoras, e muito menos vai acabar com a produção do Jeep Renegade.
Em alguns mercados, inclusive, por questões estratégicas e de estágio de eletrificação, o Avenger não será só a bateria: na Itália, por exemplo (e por quê não no Brasil?), também terá versões híbridas.
Além disso, por seu porte e proposta, não é substituto do Jeep Renegade – que segue vivo, e também, ainda, com motores a combustão. Os dois SUVs vão conviver, em uma estratégia que chamamos de “duas caras”.
A beleza das plataformas modulares (em um grupo com amplas fábricas e recursos disponíveis, claro) é que, uma vez feito o investimento, se multiplicam as recompensas – na forma de produtos a oferecer.
Assim, uma vez amortizadas as despesas adicionais com moldes, o resto é lucro. Quanto mais modelos nascerem da mesma plataforma, mais se diluem os custos de desenvolvimento inicial. Então, por que não aproveitar a oportunidade e criar a próxima geração de um carro de sucesso como o Jeep Renegade?
Deste modo, se o Avenger nasce na fábrica de Tychy (Polônia), outro SUV, feito na Espanha (Zaragoza) disputará o mesmo segmento do atual menor modelo da gama, o Renegade, produzido hoje em Melfi (Itália), Goiana (Brasil), e Guangzhou (China).
No segmento mais disputado do mercado, o Avenger, ou “mini-Compass” (olhe bem e entenderá) será para casais jovens e solteiros, principalmente mulheres, e o Renegade, para famílias com filhos pequenos e também para solteiros, mas principalmente homens.
Já o novo Jeep Avenger é mais urbano-chique; o Renegade, mais outdoor, aventureiro e off-road – uma vocação que é refletida no seu design (como o atual, mais similar aos dos modelos “duros e puros” da Jeep).
É este o SUV que o ilustrador de nossa parceira italiana Quattroruote imagina aqui – sem muitos elementos concretos a se agarrar, porém, na falta de esboços ou de protótipos em teste.
Jeep Renegade: o mistério
Quando as formas do Avenger foram reveladas, em setembro, a marca exibiu dois outros modelos com versões 100% a bateria (veja quadro) e um quarto, ainda “misterioso”. Poderia ser justamente o futuro Renegade, em sua segunda geração de fato (que pode ou não manter o nome; nós achamos que, pelo sucesso atual, manterá).
E qual plataforma usaria? Considerando a questão da sinergia já apontada, deve ser a mesma do Avenger – que, ao que tudo indica, é a evolução da CMP de Peugeot 208, Citroën C3 e cia., já instalada no Brasil.
Ela passaria a se chamar STLA Small (uma das quatro arquiteturas que viram a espinha dorsal da Stellantis). Nesse caso, o novo Renegade nasceria na fábrica da PSA (é tudo Stellantis hoje) em Porto Real (RJ).
No entanto, ainda não temos certeza absoluta disso. É fato que a STLA Small nasce para a propulsão elétrica, mas não deixa de ser multienergética como a CMP.
Mas a plataforma CMP não prevê o uso de motorização híbrida, então, se o plano for manter versões 4×4 no Renegade sem ser em uma verão 100% elétrica, ela teria que ser obtida usando um motor a combustão na dianteira e mais um, este elétrico, no eixo traseiro, como no sistema 4xe da Jeep.
E aí pode ser mais lógico (e barato) o Renegade manter a plataforma atual – o que, no Brasil, preservaria sua fabricação em Goiana, PE, “liberando” Porto Real para expandir as ofertas da Peugeot e da Citroën (e até produzir o Avenger?). A conferir.
Seja qual for a escolha da marca, as coisas vão mudar bem na família Jeep. Afinal, o Avenger se posiciona na base da gama, com 4,08 m. Acima dele, o novo Renegade deve crescer um pouquinho, e superar os 4,30 m de comprimento.
Isso porque, acima dele, o Compass de nova geração vai abandonar sua plataforma atual (de compacto, a mesma do Renegade). Assim, se hoje os dois são muito próximos, com essa mudança o Compass se distanciará do Renegade ao adotar a STLA Medium, virando um verdadeiro médio (e aposentando o fracassado Cherokee).
A gama da Jeep se completaria com o Grand Cherokee. Faz sentido, não?
O Avenger ao vivo
Ao vivo, o novo “baby Jeep” tem um ar bem adulto, graças ao uso de recursos visuais que lhe conferem uma presença maior do que sugere seu tamanho. Tendo o observado de perto, já podemos “desmascarar” o ilusionista (no caso, o designer), revelando seus segredos.
Mágica número dois: tem um estilo Jeep “adulto”, que o insere na genealogia do Grand Cherokee e o ligam mais diretamente ao irmão maior Compass (principalmente na dianteira, no desenho da coluna traseira e no que dá no teto).
Mágica número três: alguns detalhes que alargam a seção dianteira e traseira, como para-lamas salientes e as lanternas cercadas por contorno preto que as alarga, como lápis de olho, estendendo-as horizontalmente.
Além disso, meio que ilegalmente, entramos no Avenger, mas não podemos revelar nada sobre o interior. Só podemos dizer que é confortável e, mesmo atrás, tem um espaço bem decente para os joelhos dos ocupantes.
Em suma, todas as coisas que aproximam o bebê Jeep da faixa superior, em vez de afastá-lo. Mas há uma arma principal, e ela não poderia deixa de ser a tração elétrica.
Conhecendo a plataforma em que o modelo nasce – quer ela se chame STLA Small ou não –, ainda é evolução da CMP usada pelos modelos da PSA, então dá para deduzir que terá variantes elétricas com bateria de cerca de 50 kWh. Na versão 4×2, o motor terá 156 cv e 260 Nm. Já na 4×4, o modelo pode chegar à faixa de 300 cv.
Convivência: as outras novidades
Se o Avenger inaugura a oferta de emissão zero da marca americana, ele não ficará sozinho por muito tempo no mercado dos Jeep 100% elétricos: em 2024, se juntarão a ele dois produtos que nascem na mesma plataforma, o STLA Large (grande), mas que não poderia ser mais diferentes em estilo, configuração e destinação.
O Recon (à direita, na foto de baixo) é o elo entre a linha de SUVs, no topo da qual temos o Grand Cherokee, e a família off-road, composta por Wrangler e Gladiator.
Com linhas quadradas mas elegantes e um nariz “civilizado”, tem o avançado sistema de gerenciamento de tração nas quatro rodas Selec-Terrain, com tecnologia de travamento de eixo elétrico, o que torna a versão Moab capaz de percorrer facilmente a dificílima Rubicon Trail, nos Estados Unidos, e merecedor da certificação interna “Trail Rated”, reservada apenas para os Jeeps mais capazes em condições off-road.
O outro modelo da versão maior da plataforma STLA é o Wagoneer S (à direita, na foto de cima), um SUV que também é do segmento D, mas bem urbano, com laterais lisas, linhas aerodinâmicas e uma grade fina em que as sete fendas da marca são pouco mais que uma referência iconográfica.
Aqui é o desempenho na estrada que mais conta, com 600 cv de potência, 3,5 segundos para acelerar de 0-100 km/h e uma autonomia de mais de 600 quilômetros. Um quarto modelo, misterioso e a bateria, é anunciado para 2025. O herdeiro direto do Renegade? Ou seria do Compass ? Saberemos em breve.