Pela primeira vez, desde o início dos estudos da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), menos de 10% do asfalto das rodovias brasileiras foi classificado como excelente. A pesquisa mais recente, realizada em 2022, apontou a pior avaliação das estradas que cortam o país em 27 anos.
Os indicadores reforçam o que motoristas e empresários de diversos setores da economia já constataram: a maioria das BRs caminha na contramão do desenvolvimento.
Dos mais de 110 mil quilômetros avaliados pela CNT, 66% foram classificados como regular, ruim ou péssimo, tornando a trajetória de crescimento da indústria, do agronegócio, da mineração e até do turismo cada vez mais difícil.
Durante dois meses, a Itatiaia percorreu trechos de estradas e coletou depoimento de caminhoneiros, representantes de entidades nacionais e internacionais e de consumidores sobre a consequência das estradas ruins na qualidade dos produtos. E como tantos indicadores negativos contribuem para encarecer e reduzir a segurança do alimento que chega na sua casa.
Ao longo desta semana, a série “Custo Estrada: o impacto das rodovias ruins na mesa do brasileiro” vai abordar em cinco matérias os principais problemas, gargalos e apontar soluções para as deficiências crônicas desse modal .
As reclamações
Depois de 1600 quilômetros de viagem, encontramos Ramon Pereira Arruda na Central de Abastecimento de Minas Gerais, que fica em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. O caminhoneiro, de 35 anos, entregava uma carga de coco fresco, após 30 horas de viagem desde Juazeiro, na Bahia. A rota do transportador de frutas passa por rodovias de estados do Sudeste e Nordeste do país e, segundo ele, todas apresentam semelhanças negativas.
Entre as federais, os principais alvos de reclamações são BR-381, entre a capital mineira e Vitória, no Espírito Santo, a rodovia Fernão Dias, de BH a SP, e a BR-040, principal ligação entre a capital mineira e o Rio de Janeiro, sendo as duas últimas privatizadas.
BR-381 sentido São Paulo
A saída para SP é crítica. Na rodovia, os caminhoneiros são obrigados a abandonar a faixa da direita para desviar de buracos e erosões, o que provoca lentidão no fluxo de veículos de passeio. Neste segmento, a estrada é privatizada e é administrada pela Arteris Fernão Dias. São 8 praças de pedágio. Um caminhoneiro chega a gastar mais de 100 reais no percurso. O caminhoneiro Júlio Lessa diz que não consegue entender como uma estrada pedagiada pode ter trechos tão ruins.
BR-381 sentido Vitória
Já entre Minas Gerais e Espírito Santo, o trecho mais crítico, segundo os caminhoneiros, é na BR-381 entre as cidades de João Monlevade e Vitória. Há relatos de pneus estourados, rodas destruídas e acidentes causados por motoristas de carros de passeio que tentam desviar dos buracos no asfalto. O borracheiro José do Carmo Silva afirma que os caminhoneiros chegam à borracharia dele querendo até vender o caminhão, após passar por alguns trechos da BR-381.
Norte de Minas
Depois de anos transportando frutas, legumes e verduras de outros produtores, Breno Maia decidiu “mudar de lado” e investir na própria produção rural na região turística da Serra do Cipó, na Grande BH. Apesar de toda experiência no volante, o escoamento dos produtos foi terceirizado.
Prejuízos
Além de comprometer a qualidade dos alimentos, as estradas ruins têm efeitos variados nos veículos. Um pneu estourado pode provocar um prejuízo, aproximado, de três mil reais e zerar todo o lucro de uma viagem.
Um estudo da CNT aponta que problemas no pavimento das estradas provocam uma elevação do custo operacional do transporte de mais de 28%. Prejuízo também para o bolso do consumidor. É o que vamos contar na segunda reportagem da série. Como as estradas em más condições têm contribuído para elevação no preço do frete e para o desperdício de alimentos.
Ouça a primeira reportagem completa: