Brasil

Custo estrada: há soluções para a logística brasileira?

Atualmente, cerca de 60% do escoamento dos produtos alimentícios do Brasil ocorre pelas rodovias. Na contramão da demanda, está o investimento por melhorias: apenas 10% das estradas são classificadas como excelentes. O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Carlos Fávaro, afirma que os alimentos que estragam e são desperdiçados – muitos em função das estradas ruins – poderiam acabar com a fome no país.

“Há estimativas de que 8% da produção brasileira se perde, desde a colheita até a chegada no consumidor. Isso tudo daria para acabar com a fome no Brasil, baratear o preço dos alimentos, então nós investirmos em infraestrutura logística eficiente, rápida, descarbonizante, é um grande marco”, disse.

O desafio é colocar em prática o enfrentamento à péssima qualidade das rodovias e trazer de volta a competitividade dos produtores e os preços mais baixos nos supermercados.

Integrar o sistema rodoviário a outros modais, como o hidroviário e o ferroviário, é uma das principais soluções apontadas por especialistas do setor de logística para reverter o cenário de perdas, além de valorizar o campo e os próprios caminhoneiros, que deveriam percorrer distâncias menores. Neste ano, após quatro décadas, a ferrovia Norte e Sul finalmente foi concluída e deve beneficiar, principalmente, o escoamento de produtos como a soja, o milho e o algodão.

“Tem quase 40 anos que o brasileiro espera essa ferrovia. E tenho certeza que esse entroncamento rodo-ferroviário vai fazer com que o Brasil seja mais competitivo, tenha menos desperdício e que nós possamos avançar com outras ferrovias, hidrovias, modais mais eficientes, menos poluentes. Os caminhões tem um papel fundamental, mas eles devem trabalhar em trechos curtos, fazer a ligação entre hidrovias, ferrovias”, completou o ministro Fávaro.

Uma ferrovia também seria uma excelente alternativa para Minas Gerais. O estado, que tem uma área territorial maior que a de muitos países europeus, é dependente – quase que exclusivamente – das rodovias. Para o coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral, Paulo Rezende, essa relação do Brasil com o sistema rodoviário é perigosa.

“Nós teríamos que transportar mais por ferrovias, hidrovias, essa navegação ao longo da costa. Nós teríamos que ter maior diversificação dessa dessa matriz. Como nós não temos, o mais prejudicado é realmente a o consumidor, a população. O caminhão quebra a todo momento, né? Pesquisas da Confederação Nacional de Transportes, que são pesquisas muito sérias, complexas, apontam que uma estrada em condições inadequadas aumenta em 33% os custos operacionais. E esses custos, alguém tem que pagar essa conta. E quem paga realmente é a população brasileira, com aumentos de fretes. E, além de aumento de frete, uma situação de logística extremamente precária”, explicou o professor.

Estradas ruins acarretam produtos 30% mais caros. Mas quando o custo recai sobre a alimentação, as consequências são ainda mais profundas.

A FAO, braço das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, divulgou um estudo neste ano mostrando uma piora nos indicadores de fome e insegurança alimentar no Brasil. Segundo o relatório, em 2022, mais de 70 milhões de pessoas passaram dificuldade para se alimentar e cerca de 21 milhões estavam em estado de fome.  O representante da FAO no Brasil, Rafael Zavala, destaca que o acesso aos alimentos é um problema econômico.

“O desafio da fome não é a disponibilidade de alimentos, mas sim um problema econômico. O desafio não é produzir, é fazer os alimentos serem mais acessíveis para o consumidor. Transportar o alimento é, com certeza, um fator de risco para a segurança alimentar”, disse.

Em um país com milhões de famintos, o fim do desperdício deveria ser uma das principais preocupações das autoridades públicas. Eduardo Bublitz é diretor presidente da Associação Brasileira das Centrais de Abastecimentos, local onde os produtos in natura costumam passar antes de serem distribuídos aos supermercados. Pelas Ceasas do país, o cenário de desperdício também é frequente. Ele também defende a diversificação dos modais.

“O nosso transporte é rodoviário, né? A gente precisa de novos modais. O modal rodoviário é importante, gera muito emprego, a gente sabe da importância, ainda mais no Brasil um país continental. Mas a gente precisa, sim, investir em novos modais e as nossas estradas é óbvio que encarecem e encarecem muito o produto final”, comentou.

O Coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral, Paulo Rezende, com quem conversamos no início da reportagem, está na Alemanha justamente para estudar o sistema de transporte de cargas na Europa. Segundo ele, quando o assunto é logística de escoamento de produção, ainda estamos muito atrasados.

“O resto do mundo, principalmente o mundo desenvolvido, já encontrou uma solução. Ele funciona com o chamado “transporte multimodal”. É uma integração entre os diversos modais de transportes. Então, por exemplo, você tem uma ferrovia na longa distância e integrada a um caminhão na curta distância. Para se ter uma ideia de como todos saem ganhando nessa história, nós temos uma comparação de frete de contêineres na Alemanha, que usam ferrovia. A comparação é que esses contêineres tem um custo menor do que o custo no Brasil em cerca de 30% E olha que já são caros, né, nos Estados Unidos é mais barato ainda, na China é bem mais”, completou.

Durante dois meses a Itatiaia ouviu caminhoneiros, funcionários da Ceasa, especialistas em transporte e consumidores… todos convergem para uma constatação: a mudança é urgente.

TOP STORIES

Tin công nghệ, điện thoại, máy tính, ô tô, phân khối lớn, xu hướng công nghệ cập nhật mới nhất