Contra o novo e comportado Mercedes-Benz A 250 Vision, o clássico esportivo Volkswagen Golf GTI oferece um visual bem mais intimidador. Mas às vezes as aparências enganam
- Mercedes-Benz A 250 Vision X Volkswagen Golf GTI
- Mercedes-Benz A 250 Vision – Equipamentos
- Volkswagen Golf GTI – Equipamentos
Mercedes-Benz A 250 Vision X Volkswagen Golf GTI
Roberto Assunção
Roberto AssunçãoO Mercedes-Benz tem capô mais longo e quase 10 cm a mais de entre-eixos, mas isso não se reflete em espaço interno maior. Atinge os 250 km/h sem ruídos
Roberto AssunçãoDistante da discrição do A 250, o Golf tem detalhes pretos no para-choque e logotipo na lateral para mostrar que é esportivo. O ronco do motor é um dos atrativos
Hatch médio é mesmo uma espécie em extinção? Há quem ache que sim, há quem diga que não. A vendas deles estão em queda e a Ford aposentou o Focus no Brasil, isso é fato, mas a Mercedes-Benz acaba de lançar esse novo Classe A, a BMW estreou o novo Série 1 e Audi e Volks farão novas gerações – já quase prontas – de A3 e Golf, respectivamente. Nós, da MOTOR SHOW, acreditamos que seguirão firmes como carro de nicho – e se fortalecerão quando a loucura do mercado por SUVs diminuir.
Esses modelos não devem morrer definitivamente porque ainda há quem prefira o prazer ao volante que proporcionam à posição de dirigir alta ou à robustez extra dos SUVs. Por isso, faz todo sentido investir mais em hatches médios nas versões mais potentes e/ou esportivas, que reforçam essa qualidade – como as duas aqui.
No caso do Golf, essa versão esportiva GTI é a única que foi mantida em produção no Brasil nessa geração – as demais deram lugar nas linhas, de montagem e de produtos, ao SUV compacto T-Cross, baseado no Polo (para atender ao mercado). No caso do Classe A, a Mercedes-Benz trouxe essa nova geração inicialmente em versão única, 250 Vision, abrindo mão das opções de entrada com o brilhante 1.3 turbo de 163 cv (que avaliamos há um ano na Europa).
Mercedes-Benz A 250 Vision – Equipamentos
Roberto AssunçãoO Classe A painel de instrumentos e central multimídia/de comandos combinados em uma só tela ultrafina, com desenho revolucionário. A alavanca de câmbio fica na coluna de direção
Roberto AssunçãoUma das opções de visualização do cluster
Roberto AssunçãoTela do park assist
Roberto AssunçãoSeleção dos modos de condução
Roberto AssunçãoComandos do sistema multimídia no console central – com touchpad como alternativa à nova tela tátil
Roberto AssunçãoO Mercedes-Benz não tem saída de ar para o banco traseiro, e seu espaço não se destaca, mas o acabamento é superior
Roberto AssunçãoOs assentos dianteiros têm ajustes elétricos, de comprimento do assento e até mesmo um sistema de massagem
O GTI tem uma cara muito mais esportiva, até mesmo porque o A 250 não é oficialmente um esportivo: a categoria é reservada aos Mercedes-AMG A 35 (306 cv) e A 45 AMG (deve beirar 400 cv), que estão para chegar. Mas as duas marcas alemãs trabalham com “escalas” de potência diferentes, então esse Mercedes-Benz A 250, sem AMG, já é páreo duro para o mais elogiado Volkswagen.
Vendido por R$ 201.900, o Mercedes-Benz A 250 é mais caro. O Golf parte de R$ 151.530, mas como todos seus opcionais são itens de série no Classe A, para equipará-lo ao rival é preciso somá-los, chegando ao preço de R$ 174.350. Ainda assim, o A 250 tem coisas que o rival não tem – como o freio de mão elétrico e os dois assentos dianteiros elétricos com massagem –, mas fica, inexplicavelmente, devendo a ele itens relativamente “básicos” como chave presencial que abra as portas e retrovisor eletrocrômico, além do ACC (piloto automático adaptativo). No fim, o conteúdo é bastante equilibrado (veja tabela abaixo).
Uma vantagem do Classe A, logo de cara, aparece na idade: enquanto ele acaba de estrear sua quarta geração, o Golf chega ao fim da sétima – e muda, por aqui, daqui a cerca de um ano. Isso justifica parte da diferença de preço entre eles, de R$ 27.550. Mas será que ao volante o Mercedes-Benz nessa versão (aparentemente) “civil e comportada” tem chance diante do furioso Golf GTI, um clássico esportivo? Quem apostar que o Classe A é só status e luxo e o Golf leva fácil no desempenho pode acabar perdendo. Porque às vezes as aparências enganam.
Esportivo VS. Sleeper
O Golf GTI, ainda que de forma elegante e sem exageros, tem logotipos, saias e escape que deixam bastante claro que se trata de um esportivo. Outros carros, como esse A 250, têm aparência “comum” e comportada, mas um desempenho que surpreende. São chamados sleepers (dorminhocos). Mais ou menos o oposto dos “esportivados” que tanto sucesso fazem aqui no Brasil (carros com visual invocado, mas sem mecânica que corresponda).
Volkswagen Golf GTI – Equipamentos
Roberto AssunçãoO painel do GTI também é digital, mas já tem esse layout há tempos
Roberto AssunçãoO park assist mostra vagas no cluster
Roberto AssunçãoOs modos de condução são mais personalizáveis
Roberto AssunçãoA alavanca de câmbio é normal e não há freio de mão elétrico
Roberto AssunçãoNo Golf, quem viaja atrás tem saídas de ar independentes
Roberto AssunçãoOs assentos dianteiros têm abas generosas, mas só há ajuste elétrico para o motorista (no próprio banco, enquanto os do rival voltaram às portas, como é comum nos Mercedes)
Olhando as motorizações, já dá para ver que o Mercedes não dá moleza para o Golf. Ambos têm motor quatro cilindros 2.0 turbo com injeção direta e torque de 35,7 kgfm, mas há discreta vantagem na potência para o GTI – são 230 cv, contra 224 do rival. E ambos usam transmissões automatizadas de dupla embreagem, com seis marchas no Golf e sete no Classe A. Talvez a marcha extra explique porque o sleeper da Mercedes é mais rápido no 0-100 km/h (6,2 segundos, contra 7 do rival). Não é pouca diferença no caso de esportivos – ainda mais se o esportivo “declarado” é o perdedor.
Mas aceleração de 0-100 km/h não é tudo, e o GTI é mais instigante ao volante. A começar pelos bancos que “abraçam” melhor o corpo (elétrico, só o do motorista). Além disso, suas suspensões – com multi-link atrás como no rival – são bem mais firmes, e sua direção, mais pesada. Tem dinâmica de esportivo puro e duro, equilibrado como poucos, extremamente provocante. Pura adrenalina, o tipo de carro que sempre “pede”para você acelerar mais. Mas, acima de tudo, o que cativa no GTI é o ronco – que, com a opção personalizável dos modos de direção, pode ser colocado no Sport mesmo com o motor no Eco (nessa combinação, ainda que com motor em baixas rotações para poupar gasolina, seu ronco grave segue presente na cabine; já no modo Eco, o Golf é absolutamente silencioso).
Mas se for para andar devagar e poupando gasolina, o A 250 faz ainda melhor – e com muito mais luxo e conforto. Também tem roda livre, que no modo Eco desacopla o motor do câmbio para economizar, e fez 10 km/l na cidade e 17 na estrada (com a marcha extra, a 120 km/h marca só 1.800 rpm). Nessas condições, tem respostas mais suaves e é mais silencioso, além de mais confortável, com suspensões sensivelmente mais macias.
E isso não significa que o A 250 não saiba andar forte. Anda até mais. Nem é preciso mudar para o Sport para ele ficar aceso (o Comfort já basta). Mas a carga extra na direção – leve e agradável na cidade – é muito bem vinda. Com relação variável, o sistema é mais direto e preciso. Para completar, não há nenhum lag do turbo, e tudo é entregue de forma tão linear que você chega a 170/180 km/h sem ninguém a bordo nem perceber.
E as suspensões não decepcionam em uma tocada rápida: apesar da maciez, não deixam o hatch deitar demais nas curvas. Às vezes ele até parece “avisar” que vai sair de frente… mas não sai (a vetorização de torque, que o rival também tem, atua discretamente em caso de exageros). Então, se há alguma decepção ao volante desse A 250, é com seu ronco – ou melhor, com a ausência dele. O A 250 é tão silencioso que às vezes parece até um carro elétrico. Mesmo no Sport, mesmo quando você quer ouvir o motor… mal escuta.
Um detalhe interessante para o uso urbano: os dois têm sistema park assist (assistente de estacionamento semiautônomo), mas o do Classe A é mais sofisticado: além de, como o do Golf, medir a vaga e esterçar o volante, também assume trocas de marchas, acelerações e frenagens, avisando ao motorista ao concluir a manobra.
Beleza interior
Se visual e dirigibilidade/desempenho não solucionarem sua dúvida, a cabine aqui pode ser fator decisivo – ou até fazer mudar de ideia, caso estivesse pendendo para o GTI. Sabemos que o Golf não é qualquer carro e o GTI não é qualquer versão do Golf. Além da fartura de equipamentos, tem revestimento com materiais macios, carpete nos porta-objetos, painel digital, ergonomia elogiável… Mas o interior do Classe A é tão incrível que o ofusca. Sozinho, já quase justifica a diferença de R$ 28 mil. É revolucionário, com quadro de instrumentos “retrô-futurista” ligado com a central multimídia em tela única, extra-fina e retangular. Inigualável, pura elegância.
Funcionalmente, o Golf ainda tem alguns comandos mais diretos e claros (sempre uma qualidade dos Volks). Mas esse Classe A, mesmo com touchpads no volante que às vezes demoram a responder ou travam (cada um controla uma tela), consegue inovar, provocar, encher os olhos com formas inovadoras e acabamento mais fino, com carbono e couro. Seu teto solar também é maior, e tem cortina elétrica (no GTI é manual).
Apesar da vantagem no comprimento e no entre-eixos (veja fichas) o espaço interno é similar nos dois, que atrás têm espaço limitado e túnel alto, mas agradam os ocupantes com saídas de ar-condicionado e luzes de leitura individuais. Já no porta-malas, vantagem do Mercedes: acomoda 370 litros, contra 338 do Golf.
O preço de ser premium
Embora não seja a maior preocupação de quem compra um carro desses, as diferenças nos custos de pós-venda são enormes… então é preciso pagar um preço alto para “ser premium”. Enquanto a Volks fabrica o Golf no Brasil e oferece três anos de garantia e as três primeiras revisões grátis, a Mercedes-Benz importa o Classe A da Alemanha, tem garantia de só dois anos, cobra caríssimo nas revisões e ainda tem um pacote de peças mais caro (o dobro; veja valores tabelas). Nesse ponto, portanto, uma grande vantagem para o Volks.
Escolha sua dose
Se o que você quer é um esportivo de verdade, com todos os seus ônus e bônus, leve o Golf. Seu visual é intimidador e a dinâmica é superior para quem busca esportividade. O prazer de dirigir um GTI é praticamente insuperável, e ele seria praticamente imbatível nessa categoria e faixa de preços, não existissem carros como o A 250 Vision.
Porque se o que você procura é um hatch de luxo com a mais incrível cabine da atualidade, construção e suspensões impecáveis e mais conforto a bordo, o Mercedes vale cada centavo a mais – e, apesar do visual discreto, é capaz de deixar o GTI comendo poeira (ganhando nossa hipotética aposta).
Então você escolhe sua dose de adrenalina, luxo e tecnologia: é mais importante a experiência na cabine ou ao volante? Vale sacrificar conforto por esportividade… o tempo todo? Parecer esportivo importa, ou melhor mesmo é ser rápido e ágil com discrição? São dúvidas bem interessantes, considerando carros como esses. Boa escolha!