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Opinião GP: Hamilton cai em apatia cedo demais e não fala mais a língua da Mercedes

opinião gp: hamilton cai em apatia cedo demais e não fala mais a língua da mercedes

SEM GRANDE SURPRESA, o GP do Japão acompanhou um passeio de Max Verstappen e da Red Bull. Suzuka é uma pista que agrada bem ao excelente RB20, o que facilitou ainda mais a vida do tricampeão — Sergio Pérez completou a dobradinha e ratificou a força dos taurinos. A vitória também é uma resposta importante depois do revés sofrido no GP da Austrália, porque recoloca tudo nos trilhos. Só que a corrida nipônica não pode ser resumida apenas à recuperação da equipe dos energéticos na Fórmula 1. Há outras histórias, como a própria combatividade da Ferrari, mas tem algo que não se pode deixar passar: a etapa japonesa também se tornou um marco na relação cada vez mais distante entre Lewis Hamilton e a Mercedes.

A esquadra que já venceu oito títulos consecutivos agora vive um limbo na F1 e se vê no incômodo papel de coadjuvante de luxo. Algo impensável até 2021. A excelência técnica deu lugar a uma irritante incompetência. Em outras palavras, os caras estão perdidos — todos: engenheiros, chefia e pilotos. De novo, o time errou a mão do projeto e entregou a sua dupla um carro pouco competitivo e nada fácil de guiar. Para se ter uma ideia, mesmo após a quarta etapa da temporada 2024, é difícil dizer em que posição a Mercedes se encontra na hierarquia do grid. O W15 não tem identidade e nem pontos de destaques claros. É como se a cada fim de semana o time tivesse de começar do zero.

E no Japão não foi diferente. O fato de Hamilton terminar a classificação de sábado aliviado por “não enlouquecer” com as constantes mudanças de configuração do modelo preto e prata é muito sintomático. Mas o que aconteceu na corrida deste domingo diz mais sobre como o próprio piloto se vê nesse cenário.

O heptacampeão partiu da sétima posição do grid, duas colocações à frente do companheiro George Russell, mas acabou perdendo espaço para Charles Leclerc após o reinício das ações — a prova em Suzuka precisou de uma segunda largada por conta de um acidente ainda nos primeiros metros entre Alexander Albon e Daniel Ricciardo. No intervalo da bandeira vermelha, a Mercedes decidiu mudar a estratégia e calçou seus dois pilotos com os pneus duros, depois de um começo com compostos médios. A ideia era fazer um pit-stop a menos e tentar ganhar terreno. Não deu certo, o desgaste foi muito alto, como a própria Pirelli previa, e o time teve de voltar atrás.

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Mas ainda no começo da prova, após ser superado pelo futuro parceiro de Ferrari, Lewis percebeu a aproximação de Russell. Na verdade, ambos possuíam um ritmo parecido, com ligeira vantagem do inglês mais novo. E foi aí que o recordista de vitórias e poles da F1 decidiu abrir passagem ao colega. Do nada e sem nenhum aviso prévio de problemas, Hamilton entrou no rádio e perguntou se deveria deixar George ultrapassar. A equipe aceitou a sugestão (??) na volta 14.

A oferta do britânico causou espanto, principalmente porque não havia uma diferença tão gritante e ambos estavam na mesma estratégia. Além disso, ao longo do tempo, Hamilton jamais se furtou de disputas mano a mano com Russell. Aliás, foi lá mesmo em Suzuka, em 2023, que os dois tiveram um pega forte, em que o chefe Wolff precisou entrar no rádio para acalmar os ânimos. Detalhe: Toto nem na pista estava naquele dia.

Então, reiterando: é, no mínimo, estranha a escolha de Hamilton e joga muito contra ele também. Depois da prova, o britânico tentou explicar e disse que havia algo de errado no carro, “algum dano depois da disputa com Charles. O carro passou a sair de frente e é por isso que deixei George passar”, contou o piloto. Também durante a corrida, o piloto #44 pediu a troca da estratégia sem fundamento ou performance.

No fim, Lewis fechou a corrida em um melancólico nono posto, enquanto Russell foi o sétimo, brigando com Oscar Piastri até a linha de chegada. “Terminar em nono foi muito ruim”, disse Hamilton. “É onde nosso carro está no momento. Não sei se dá para tirar muitos pontos positivos do fim de semana”, reconheceu.

Ele tem razão. A Mercedes tomou decisões erradas, enquanto o W15 permanece uma incógnita, como Wolff reforçou depois: “Monitoramos os nossos sensores e a tabela de pressão, e os relatórios dizem que temos 70 pontos a mais de downforce em uma determinada curva em Melbourne, por exemplo, mas o tempo de volta não é nem 1 km/h mais rápido. Portanto, não faz sentido. Então, nos questionamos: ‘Existe alguma limitação que não sabemos?’. Acho que sim”, explicou o dirigente austríaco.

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Lewis Hamilton abriu passagem por conta própria ao companheiro de equipe (Foto: Mercedes)

“O downforce está lá, mas não conseguimos extrair o tempo de volta que deveríamos e que as simulações nos mostram. Aí é algo como: ‘O que diabos acontece aqui?’. Imagine que é isso que pensamos a todo momento”, admitiu.

Diante disso, dá até para dizer que, por um lado, é compreensível o desânimo geral de Hamilton, além de já pensar na Ferrari — especialmente pelo momento em que vive a escuderia vermelhos. Ainda, o W15 não oferece aquilo que o inglês gostaria para seu último ano na equipe alemã e muito do acordo com os italianos está associado ao fato de que o time de Wolff não será capaz de entregar um modelo suficientemente competitivo a curto prazo.

Só que também é verdade que Lewis soltou a mão da Mercedes — pelo cenário atual e por outros detalhes dos últimos anos, como o fato de não o ouvirem. Quer dizer, Hamilton e a Mercedes não falam mais a mesma língua. E há um outro episódio que confirma esse cenário: na Austrália, ainda no grid, Lewis questionou a escolha pelos pneus macios, como se fosse uma grande surpresa, expondo assim a equipe. Naquele dia, a escuderia da estrela terminou o fim de semana zerada.

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De novo, é natural o descontentamento — até de ambas as partes. Porém, não dá para aceitar um comportamento tão derrotista e descompromissado de um piloto experiente e que tem sete títulos mundiais nas costas. A apatia é uma armadilha ardilosa.

E no fim das contas, ser o maior exige um preço alto. Não dá para parcelar. Ou é ou não. Na história, é difícil imaginar um Juan Manuel Fangio desistindo tão facilmente ou ainda um Ayrton Senna abrindo passagem para alguém de livre e espontânea vontade. Michael Schumacher, certa vez, segurou o próprio irmão para ajudar a equipe. Ou seja, o mínimo que se espera de um campeão é brio. É isso que molda gerações. E desta vez, Hamilton errou feio. Uma pena.

A Fórmula 1 volta daqui a duas semanas, entre os dias 19 e 21 de abril, para o GP da China, retorno da etapa ao calendário pós-pandemia.

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