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Em meio a dificuldades econômicas, a petroquímica Unigel demitiu e recontratou 280 funcionários. Pressionada por investidores no Brasil e no exterior, a empresa realiza um processo de reestruturação financeira para impedir uma eventual recuperação judicial.
Questionada sobre a quantidade de funcionários, a empresa não confirmou o número exato de demitidos e recontratados. O Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Química, Petroquímica, Plástica e Farmacêutica do Estado da Bahia (Sindiquímica) e o Sindicato Unificado dos Trabalhadores Petroleiros, Petroquímicos, Químicos e Plásticos (Sindipetro) participaram das negociações para reverter as demissões nas fábricas de fertilizante nitrogenado (Fafens).
Segundo o Sindiquímica, foram realizadas 280 demissões em 9 de fevereiro. Assim que tomado conhecimento dos fatos, o órgão entrou em negociação com a Unigel para reverter a ação. Em 10 de fevereiro, a empresa recontratou todos os trabalhadores que haviam sido dispensados.
Fábrica da Unigel Foto: Ulisses Dumas / Unigel
O Sindiquímica acrescentou que 148 trabalhadores foram demitidos e recontratados na unidade de Sergipe, em conjunto com 132 demissões que também foram revertidas em uma fábrica na Bahia. No total, 476 funcionários diretos trabalham nas duas plantas. A demissão em massa reduziria o quadro das duas unidades em 58,8% (em Sergipe, 70% dos funcionários foram demitidos e recontratados; na Bahia, 50%).
Dificuldades
Em 29 de dezembro de 2023, a Unigel e a Petrobras firmaram um contrato de tolling (industrialização por encomenda), onde a estatal prevê o pagamento de R$ 759,2 milhões para que a petroquímica fique responsável pela produção, armazenagem, expedição, faturamento e pós-venda de fertilizantes.
A negociação foi fechada em meio a dificuldades que a petroquímica vem enfrentando para manter a operação das duas plantas (de Sergipe e da Bahia) em atividade.
Em novembro, a Unigel chegou a colocar os 384 trabalhadores da fábrica de Camaçari, na Bahia, em aviso prévio e sinalizou um possível fechamento da planta. A parceria com a Petrobras por meio do contrato de tolling é tida como vital para garantir a continuidade das operações nas duas fábricas.
No início de fevereiro, contudo, o Tribunal de Contas da União (TCU) encontrou indícios de irregularidades no acordo e exigiu explicações das duas empresas. O órgão fiscalizador avaliou que o contrato poderia causar um prejuízo de até R$ 487 milhões ao caixa da Petrobras.
A Unigel enfrenta ainda uma difícil negociação com investidores nacionais e internacionais. No Brasil, a empresa está sob o risco de pagar R$ 500 milhões em debêntures e tem realizado esforços para encontrar uma alternativa junto aos credores. Em 14 de dezembro, a petroquímica obteve uma garantia cautelar para suspender eventuais execuções por 60 dias. O prazo, formalmente, termina nesta semana.
No fim de 2023, a Unigel divulgou os resultados operacionais referentes ao segundo e terceiro trimestre do ano anterior. A Deloitte, auditora independente, se absteve de dar uma conclusão sobre as demonstrações financeiras da empresa, mas avaliou existir “incerteza relevante que pode levantar dúvida significativa quanto à capacidade de continuidade operacional da companhia”.