Representante-chefe do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), Alexandre Tombini afirmou que os bancos centrais nas Américas devem manter o foco em controlar a inflação. Em discurso em San Salvador, El Salvador, ele ressalta que neste processo de restrição monetária “será crucial a comunicação dos bancos centrais com o público”, e menciona a dificuldade atual para se interpretar o quadro econômico, o que se reflete em “uma grande incerteza em relação à política monetária”.
O ex-presidente do banco central brasileiro (2011-2016) lista, em seu discurso, quatro riscos macroeconômicos globais em 2024. O primeiro é que a expectativa otimista de uma processo de controle na inflação com perda apenas suave da atividade neste ano possa ser atrapalhada por movimentos de volatilidade, com ajustes abruptos de risco e preços dos ativos.
Um terceiro risco mencionado por Tombini é que os bancos centrais não têm agora espaço para deixar passar choques adicionais, sejam de oferta ou transitórios. Segundo ele, há o risco de que os salários sigam elevados, provocando maior inércia na inflação. Nesse quadro, choques adicionais que desviem a inflação de sua convergência para a meta teriam de ser “combatidos com política monetária”. Nesse sentido, é positivo que os efeitos do El Niño pareçam limitados na região, nota.
Um quarto aspecto que representa um risco, diz Tombini, é a postura fiscal. De acordo com a autoridade, a postura fiscal pode dificultar o trabalho da monetária, elevando o tempo necessário da postura restritiva pelos bancos centrais.
Tombini ainda diz que, em geral, os sistemas financeiros das Américas têm resistido bem ao aumento das taxas de juros desde 2021, apesar de problemas entre bancos médios dos EUA em março de 2023. “A inadimplência tem sido contida até agora e o setor bancário continua bem capitalizado e com liquidez, ao menos em conjunto”, afirma. Segundo ele, a grande questão é se o panorama benigno “persistirá mesmo com taxas elevadas por um período prolongado”.