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Marina Sena troca carroça por carrão em disco repleto de flerte e jogo de sedução

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quando se mudou de Montes Claros, em Minas Gerais, para São Paulo, Marina Sena tinha medo de perder o estímulo para compor. “Achava que a inspiração era o mato”, diz a cantora, que já causava burburinho havia quatro anos, à frente de duas bandas, Rosa Neon e Outra Banda da Lua, e ganhou projeção nacional com seu primeiro álbum solo, “De Primeira”, de 2021.

Nesta semana, ela lança “Vício Inerente”, disco que solidifica sua trajetória enquanto pop star e é inteiro permeado pela experiência de deixar o interior para morar numa das grandes metrópoles do planeta. E que capta também a transformação de Sena de cantora independente em busca de espaço em artista conhecida, premiada e cercada de expectativas.

“Além de ter mudado para São Paulo, fiquei famosa e enriqueci, porque na época que estava fazendo o ‘De Primeira’ eu não tinha R$ 1 no bolso”, ela diz. “Agora é com dinheiro, são outros acessos. Quando está compondo, você está num carrão, e não numa carroça.”

Na prática, as músicas de “Vício Inerente” trocam a brasilidade pop de violões por batidas eletrônicas cosmopolitas, encaixando a personalidade exultante de Sena nesse contexto urbano. Entram em cena teclados saturados, os graves sintéticos e as levadas de reggaeton, drill, trap e de funk —música para ouvir nos altos falantes de um carrão.

Foi um processo marcado profundamente pela descoberta, por Sena, da música dos rappers Fleezus e Febem, e do produtor e DJ Cesrv, nomes por trás do álbum “Brime!”. O trabalho, de 2020, é um marco no encontro do grime —gênero musical britânico entre o rap e a música eletrônica— com estéticas brasileiras e vivências essencialmente paulistanas.

“Conhecendo os meninos do ‘Brime!’ eu comecei a perceber que esse lugar pode inspirar muito, só depende do jeito que você olha para ele”, ela diz. “Comecei a escutar muito o Fleezus e o Febem, acho que eles traduzem essa sensação de São Paulo de estar ‘no corre’, indo atrás do seu sonho.”

Não à toa, Fleezus é a única pessoa além de Sena que canta em “Vício Inerente”, na música “Que Tal”, em que a dupla busca o bar ideal. A mineira canta com os efeitos do Auto-Tune, programa que altera a voz, em uma batida pontuada por samples do barulho que o celular emite quando chega uma mensagem.

Se antes tinha uma preferência pelas sonoridades orgânicas, e compunha com o violão, agora Sena passou a escrever seus versos já por cima das batidas criadas pelo produtor Iuri Rio Branco, principal colaborador da cantora desde “De Primeira”, e que assina com ela todas as faixas do disco. “Eu escrevia muito sentada, com o violão. Se compõe sentada, você tem uma atitude. Se compõe em pé, tem uma outra atitude”, ela diz.

“Vício Inerente” é também resultado de uma perda do medo de Sena de abraçar as texturas eletrônicas. “Achava que ia deixar de ser natural, deixar de ser eu. Mas não —continua sendo eu, só que uma nova leitura de mim”, ela diz. “O ‘De Primeira’ foi um ensaio para ver até onde eu aguentava colocar filtros na minha arte. Nesse segundo, estou bem mais corajosa para colocar essas distorções.”

No primeiro single do novo trabalho, “Tudo pra Amar Você”, Sena fez uma dancinha pronta para estourar no TikTok —tática que fez “Por Supuesto”, seu maior hit até hoje, viralizar e sua carreira ganhar novas proporções. É tudo parte de um equilíbrio entre os desejos estritamente artísticos da cantora e o apelo pop que ela não abre mão desde que começou a cantar.

É uma negociação, ela diz, com limites. “Só vale a pena ser artista se eu estiver experimentando, curtindo, ousando. Não posso ter medo de errar como artista. Tenho que, inclusive, errar. Vai bombar porque sou boa no que eu faço, não porque eu sucumbi a tal coisa.”

Sena não endossa as críticas atuais de diversos cantores, que reclamam da pressão de gravadoras e empresários para fazer canções para o TikTok, algo que poderia engessar e limitar a criatividade. “Não acho que você tem que fazer música para TikTok, é uma escolha”, ela diz.

“É um lugar onde as músicas podem tomar uma proporção gigantesca e isso reverter em fãs, em pessoas que vão acompanhar você. Aí você escolhe, você quer isso? Eu quero”, diz. “Agora, se você não quer isso, não faz, faz de outro jeito. Quando lancei ‘Me Toca’, no ‘De Primeira’, eu fiz dancinha também. Só que não viralizou muito no TikTok, foi mais no Instagram. Sempre que eu tiver uma oportunidade de fazer uma dança, vou fazer. Como eu gosto, faço.”

Além da voz anasalada, o que também se mantém intacto do primeiro para o segundo álbum é a capacidade de Sena de fazer ganchos e refrões chiclete, aliada a uma sensualidade pop.

É daí que vem o nome do disco —retirado do filme de Paul Thomas Anderson que Sena já perdeu as contas de quantas vezes viu—, dialogando tanto com o magnetismo da música da cantora quanto com o jogo de sedução que é o tema da maior parte das letras.

“Meu jeito de me comunicar, minha arte é falar de amor”, ela diz. “Seja um amor por mim mesma —pela minha própria presença, inteligência, beleza—, seja por outra pessoa. Sou uma pessoa que ama muito, se apaixona muito e vivo intensamente isso. Acho que uma forma de se conhecer é se relacionando. Uma relação é um espelho e você se conhece através dela.”

As histórias retratadas nas músicas, como o desejo latente de “Dano Sarrada”, a paquera de “Olho no Gato”, o término de “Partiu Capoeira” ou a saudade de “Mande um Sinal” não vêm exatamente de vivências da cantora. São criações feitas a partir do que ela chama de gatilho —situações que remetem a sentimentos e dão o impulso para a composição.

“É tipo ‘essa sensação aqui eu já conheço’”, ela diz. “Não preciso nem viver a história em si para eu realmente falar [sobre ela]. Qualquer gatilho já é ‘quero falar sobre isso, e assim, porque acho que ninguém nunca falou dessa forma desse sentimento, com essa ótica’. Não necessariamente estou vivendo uma história, é um gatilho. Algo que já senti e sei que dá assunto.”

A persona que surge das músicas de Sena é confiante. Em “Mais de Mil”, funk minimalista que remete tanto às produções de Belo Horizonte quanto de São Paulo, ela esnoba o pretendente que a enche de diamantes. Em “Meu Paraíso Sou Eu”, se livra de tudo que não precisa, como canta, em meio a vocalizes que já são característicos dela.

É um personagem, ela diz, que a protege. “Tenho muitos problemas de autoestima, como todo mundo. Tem gente que vai com medo mesmo, e tem gente que é travada pelo medo. O meu medo não me trava. Quando ativo a Marina Sena, não interessa por quais problemas estou passando. Quando você entra no personagem, ele age por si, tem vida própria. A autoestima não abala a Marina Sena —só a Marina de Oliveira.”

Ainda assim, não dá para dizer que a mineira de Taiobeiras não confie no próprio taco. Com “Vício Inerente”, ela quer se firmar como a cantora pop criativa e contagiante que se insinuou em “De Primeira” —e não tem dúvidas de que tem talento para isso.

“Quero que as pessoas entendam de uma vez por todas que eu sou foda”, diz. “É bom mesmo, de verdade. Lancei ‘De Primeira’, foi muito bom, e o pessoal já acha que no segundo disco vai cair. Não vai, é bom também. E o terceiro disco que eu fizer vai ser bom também, porque eu não consigo fazer coisa ruim. É mais forte que eu. Já até tentei fazer música ruim, mas não dá. Fazer o que?”

VÍCIO INERENTE

Quando A parti de quinta (27), às 21h

Onde Nas plataformas digitais

Autoria Marina Sena

Produção Iuri Rio Branco

Gravadora Sony

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