Ao longo de seus mais de 30 anos de história na Fórmula 1, foram poucos os momentos em que a Sauber esteve em uma posição tão favorável financeiramente como está agora. É verdade também que, desde a sua entrada na categoria, em 1993, nenhuma equipe passou por tantas mudanças de identidade como o time fundado por Peter Sauber.
A esquadra suíça já apareceu no grid como Sauber, BMW, Alfa Romeo, será Stake em 2024 e, futuramente, Audi. A escuderia de Hinwil sempre buscou meios para sobreviver e a constante mudança de design nos carros não é realmente um mero detalhe.
Figurante no pelotão intermediário entre os anos 90 e início dos anos 2000, a equipe viveu o seu auge na F1 entre 2006 e 2009, quando a BMW adquiriu a maior parte das ações e passou a controlar as operações, caracterizando a primeira grande mudança em sua estrutura. Nomeada BMW Sauber, a escuderia terminou na terceira posição no Mundial de Construtores de 2007 e alcançou a sua primeira e única vitória no GP do Canadá de 2008, com Robert Kubica.
Após a fabricante alemã desistir de sua jornada na F1 e vender as ações para o antigo proprietário, em 2009, a Sauber voltou a navegar em mares perigosos e ficou à beira da falência nos anos seguintes. A chegada da Alfa Romeo serviu como porto seguro que impediu o naufrágio.
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A chegada da Alfa Romeo foi a virada de chave que a Sauber precisava (Foto: Alfa Romeo)
Até meados de 2016, o fundador Peter Sauber detinha 66,6% das ações, com o restante pertencendo à Monisha Kaltenborn, diretora-executiva na época e figura importante na liderança desde a saída da BMW.
Com a grave crise financeira que bateu à porta do time em 2017 — ameaçando a participação na temporada —, a Sauber foi vendida para a empresa de investimentos Longbow Finance, da Suíça, e posteriormente transferida ao grupo Islero Investiments. Tal movimento ocasionou na chegada de duas figuras importantes para os próximos anos: Alessandro Alunni Bravi e Frédéric Vasseur.
O atual chefe de equipe da Ferrari pode ser considerado o grande responsável pela reviravolta vista na escuderia de Hinwil, pois foi ele quem convenceu a Alfa Romeo a fazer um retorno à F1 após 30 anos e fez a ponte entre as partes para que um acordo fosse fechado.
Acertado todos os detalhes, a Sauber apareceu no grid em 2019 como Alfa Romeo, nome que carregou até o fim da temporada 2023 por meio de uma parceria extremamente importante para ambas as partes.
Alfa Romeo permaneceu no grid da Fórmula 1 até o fim de 2023 (Foto: Alfa Romeo)
Além do montante financeiro necessário para evitar a falência, o time de Zurique teve a oportunidade de atrair patrocinadores fortes como a petrolífera Orlen, e também pilotos conhecidos como Charles Leclerc — ainda novato em 2018, mas campeão da GP2 no ano anterior —, Kimi Räikkönen e Valtteri Bottas.
A Alfa Romeo, por sua vez, ingressou na principal categoria do automobilismo através de um investimento totalmente acessível, expôs o nome da marca durante bons anos e ainda aproveitou o crescimento exponencial da F1 a partir de 2021. Nas palavras do próprio Jean-Philippe Imparato, CEO da escuderia de Milão: “Para mim, este é o melhor ROI [retorno sobre investimento] de todos os tempos no paddock. Temos o melhor modelo de negócio em termos de F1 e, provavelmente, a melhor estrutura de patrocínio do automobilismo.”
A lua de mel chegou ao fim no ano seguinte, quando a Audi anunciou a entrada na F1 em 2026 por meio de uma parceria com a Sauber, fechando a porta para os italianos. Enquanto a empresa irmã da Ferrari saiu em 2023, a marca alemã deu início ao processo gradual de compra de 75% das ações do time suíço, que continuará nos próximos anos.
Uma grande questão surgiu: enquanto aguarda a chegada da marca das quatro argolas, o que a Sauber fará em 2024 e 2025?
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A Sauber mudou sua identidade visual para a temporada 2024 (Foto: Sauber)
Em conversa exclusiva com o GRANDE PRÊMIO durante o fim de semana do GP de São Paulo do ano passado, o representante da equipe, Alessandro Alunni Bravi, afastou os rumores sobre problemas financeiros e garantiu que eles possuem uma “herança e um bom ponto de partida” para começar 2024.
Patrocinadora da equipe desde o ano passado, quando teve seu nome estampado na lateral do C43, a empresa de apostas online Stake deu um passo à frente e se tornou parceira máster, comprando os namings rights e rebatizando a Sauber como Stake F1 Team Kick Sauber. Além do site de cassino, a empresa de streaming Kick.com — que também apareceu no bólido do último Mundial — intensificou seu envolvimento e adquiriu os direitos de nomenclatura do chassi, que será conhecido como Kick Sauber C44 na próxima temporada.
A nova parceria com a Stake será importante para a Sauber manter a estrutura já firmada e avançar mais enquanto espera a chegada da Audi. Com uma nova identidade, o time de Alunni Bravi quer alcançar um novo público e expandir a base de fãs — algo que, quando comparamos com outras equipes do grid, a Sauber nunca teve.
Apesar das mudanças internas e externas, a ‘equipe de transição’ da Stake não aparecerá no grid como uma força a ser considerada. Assim como foi com a Alfa Romeo, a empresa de apostas está na F1 para fortalecer a sua marca e ganhar visibilidade, em troca de um bom investimento que permita a Sauber continuar com as operações.
Um caminho muito seguro para ambas as partes. Um projeto com data para começar e terminar, mas estável do início ao fim.
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Sauber assume nova identidade enquanto aguarda chegada da Audiem 2026 (Foto: FIA)
Desta forma, tudo parece bem pavimentado para 2026, quando se inicia — mais uma vez — uma nova fase. A Audi viu na Sauber a oportunidade perfeita de entrar na principal categoria do mundo sem ter a necessidade de pagar uma taxa de admissão de US$ 200 milhões (ou aproximadamente R$ 994 milhões) e encarar os mesmos processos com os quais a Andretti vem sofrendo nos últimos meses.
Enquanto o novo motor para 2026 será desenvolvido no Motorsport Competence Center da marca alemã em Neuburg, a Sauber vai desenvolver e fabricar os carros em sua sede em Hinwil. A base suíça também será responsável pelo planejamento e execução das operações de corrida — algo parecido com o que aconteceu com a BMW entre 2006 e 2009.
Andreas Seidl, ex-chefe de equipe da McLaren, foi contratado para assumir o posto de CEO da Sauber e ser o responsável pelo relacionamento entre a escuderia e a fabricante alemã. A Audi contratou mais de 50 pessoas para trabalhar no departamento da unidade de potência e vem investindo pesado no desenvolvimento de outras tecnologias para estar no nível exigido da F1.
Como a parceria vai se desenvolver após 2026 ou quanto tempo ela irá durar são perguntas que não possuem uma resposta. Em um primeiro momento, a nova colaboração é nitidamente a melhor forma da Sauber se reerguer e possivelmente figurar entre os times de ponta do grid. Claro, o nome da icônica equipe vai desaparecer e a mesma será conhecida pelo título da fabricante da Baviera. Mas, de qualquer maneira, a história de superação e persistência que se tornou a principal característica da esquadra de Guanyu Zhou e Valtteri Bottas permanecerá presente enquanto a mesma existir.
O GRANDE PRÊMIO publica nesta semana um guia completo de tudo que é preciso saber sobre a temporada 2024 da Fórmula 1, que começa no próximo fim de semana, entre os dias 29 de fevereiro e 2 de março, com o GP do Bahrein. O GRANDE PRÊMIO transmite classificação e corrida em segunda tela, em parceria com a Voz do Esporte, na GPTV, o canal do GP no Youtube. Além disso, debate tudo que aconteceu na pista com o Briefing após cada dia de atividade.
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