Viagem

Fila cresce, passa de 1,5 km, e espera para adeus a Pelé chega a 3 horas

SANTOS, SP (FOLHAPRESS) – O motorista Itacil Ferreira de Sales percorreu de carro pouco mais de oito horas de Lavras, no interior de Minas Gerais, para acompanhar o velório de Pelé, nesta segunda (2). Foram pouco mais de 445km percorridos.

“Ele jogou lá uma vez, sabe? Precisava vê-lo de novo, não dava para não vir. Foi uma partida de masters no ano 2000, pouca gente sabe”, disse.

Itacil era o último fã presente na fila para acompanhar o velório de Pelé quando foi procurado pela reportagem, por volta das 17h30. Ele estava posicionado na Avenida Pinheiro Machado, 551, bem em frente a uma escola de educação infantil no local.

Passados alguns segundos, outras três famílias chegaram atrás. Um minuto depois, já era considerável o número de pessoas assumindo os últimos lugares da fila para entrada do velório.

O tempo de espera para os que concluíram a missão de prestar uma última homenagem ao Rei do futebol ultrapassou três horas. Enquanto alguns desistiam, outros permaneciam na fila.

“E com cerveja passa rápido, viu”, brincou um dos presentes.

“Vou viajar de madrugada e tentarei voltar depois. Não fui na despedida dele do Santos, em 1974, e chorei depois. Agora também não sei se poderei”, relatou o engenheiro Ricardo Alonso Martello, 58.

A mesma opção seguida pela comerciante Marcela Martins, 48: “olhei a fila e não tem a menor condição. Vou tentar voltar de manhã”, afirmou.

Logo nas primeiras horas, fãs se aglomeravam em mais de um quilômetro de fila e, pelo menos, uma hora de espera para chegar a porta do estádio.

Na Vila Belmiro, ao passarem pelos portões 2 e 3, o percurso é estimado em menos de dez minutos. Fãs passam andam em fila indiana, sobre um tablado e monitorados por seguranças. Eles ficam distantes alguns metros da tenda onde está posicionado o caixão com o corpo do Rei do futebol, só acessado pela família e por convidados.

A reportagem demorou quase 20 minutos para percorrer do início ao fim da fila, seguindo o trajeto por diversas ruas locais. O velório ocorre desde às 10h (horário de Brasília) e permanecerá de forma ininterrupta durante a madrugada.

“Fiquei exatos 40 minutos na fila com o meu filho, mas tinha um compromisso… tentei”, relatou o Nario Ornellas, 38, técnico ambiental.

“Vou voltar depois ainda com ele. Depois, ainda voltarei sozinho na madrugada para prestigiar o Rei. É a última vez, então vale”, completou.

Após o encerramento do velório nesta terça (3), haverá um cortejo fúnebre, que sairá pelas ruas do município e pelo canal 6, onde mora a mãe de Pelé, dona Celeste.

Depois, seguirá para o cemitério vertical Memorial Necrópole Ecumênica, com previsão de chegada às 12h. O sepultamento deve ocorrer às 14h, reservado apenas para familiares.

COMO ESTAVA A FILA PARA O VELÓRIO MAIS CEDO NESTA SEGUNDA (2)

O motoboy Lucas de Oliveira dos Santos, 33, aproveitou a folga desta segunda (2), colocou o filho Davi, 8, na garupa e saiu de Itanhaém, na Baixada Santista, para acompanhar o velório do ídolo Pelé, no estádio da Vila Belmiro, em Santos.

Eles entraram na fila as 11h e a 1 km da entrada no gramado, percurso marcado pela reportagem às 13h50. Uma hora depois, não haviam percorrido todo o caminho até chegar no gramado da Vila, onde o corpo do Rei é velado desde as 10h. As pessoas têm segundos para olhar o caixão, pois a fila quilométrica não pode parar.

Pai e filho percorreram parte das ruas Dom Pedro 1º e Guararapes, a avenida Bernardino de Campos e a Tiradentes até entrar, enfim, nos quatro zigue-zagues em frente a Vila Belmiro. A reportagem fez o trajeto, caminhando sem parar, por 11 minutos.

“Mas vale a pena”, afirma o motoboy.

Lucas e Davi levaram 1h45 para ver Pelé. No estádio ficaram dois minutos, entre a entrada e a saída, nada que tenha abalado o pai. “Ele [o filho] vai lembrar disso sempre”, disse Lucas.

O sentimento é o mesmo de Davison Souza Santos, 50, que, com dois filhos e um sobrinho adolescentes e o irmão, Dercilio, encarou duas horas no sol, com temperatura de 29ºC e quase nenhuma sombra pelo caminho.

Moradores em São Mateus, na zona leste de São Paulo, os cinco concordam que valeu a pena, tanto que os garotos “roubaram” tufos de grama para levar como recordação.

O também paulistano Luiz Carlos Rugue, que diz ter perdido as contas das vezes que viu Pelé jogar, se preparava para ir ao fim da fila de novo depois de duas horas de caminhada para ver o rosto do Rei, única parte exposta, e a dez metros de distância.

“É pouco por tudo que ele fez por nós”, disse.

FILA COMEÇOU PEQUENA JÁ NA MADRUGADA

A fila cresceu muito durante a manhã. Por volta da 1h, o corredor cercado por grades, por onde passariam os torcedores, tinha cerca de dez pessoas. Entre elas estava o pintor Emílio Carmo, 58, morador na Casa Verde, zona norte de São Paulo.

Ainda criança, assistiu ao um jogo do Santos no antigo estádio Palestra Itália, na Pompéia, zona oeste. E nunca mais deixou de ser santista. “O Santos empatou em 1 a 1 com o Palmeiras, com gols de Pelé e Ademir da Guia, olha que privilégio eu tive”, afirmou o torcedor que chegou na fila por volta das 11h de domingo.

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