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É de 2007 um vídeo que mostra o momento em que o carro abre-alas da escola de samba Unidos da Tijuca, do Rio de Janeiro, pega fogo na Marquês de Sapucaí. O incidente ocorreu no dia 24 de fevereiro daquele ano, durante o Desfile das Campeãs do grupo especial. Sem contexto, posts viralizaram no Facebook e no Kwai logo após o carnaval deste ano com insinuações de que o incêndio aconteceu porque a escola “mexeu com Deus” e homenageou o diabo. Na verdade, o tema da Unidos da Tijuca de 2007 foi a fotografia. A escola ficou em quarto lugar.
Foto: Reprodução
As imagens que aparecem no vídeo aqui investigado são da TV Band, que transmitiu o Desfile das Campeãs ao vivo em 2007. Na legenda de um dos posts virais no Facebook, uma usuária disse que “a Globolixo não mostrou” o incêndio que atingiu o diabo durante o Carnaval. Isso não é verdade. Embora não tenham sido encontrados vídeos da TV Globo do Desfile das Campeãs de 2007, o incêndio foi noticiado pelo jornal O Globo na edição impressa do dia 25 de fevereiro de 2007.
Dez anos depois, o jornal O Globo lembrou este e outros incêndios e acidentes que marcaram o carnaval do Rio de Janeiro desde a década de 1990. Em 2007, inclusive, outro incêndio marcou a festa, desta vez no segundo dia de desfiles do grupo especial: já na dispersão, o carro abre-alas da Grande Rio – que representava um laranjal – foi destruído pelo fogo.
Samba-enredo homenageou a fotografia, não o diabo
Frequentemente, escolas de samba que mostram representações do diabo em seus desfiles são atacadas nas redes sociais. Não foi diferente com a Unidos da Tijuca, principalmente após um incêndio atingir justamente o carro que tinha uma alegoria do diabo, mas ele não foi o homenageado do carnaval daquele ano. O samba-enredo da escola se chamava “De lambida em lambida, a Tijuca dá um click na Avenida” e falava sobre fotografia.
A sinopse do samba-enredo confirma o que disse o comentarista: “Essa técnica de pintar com luz surgiu causando um enorme alvoroço em toda a sociedade. Pessoas do povo, aristocratas, intelectuais e principalmente artistas viram-se diante de uma mudança brusca na maneira de retratar suas imagens. Com a capacidade de capturar um instante, criou-se a fábula de que a fotografia aprisionava a alma. E ainda com críticas instaladas ao novo, em relação à arte da pintura, surge referência à foto como uma invenção do diabo”.
Os destaques do carro eram o pintor Leonardo da Vinci, que aparecia com uma máquina fotográfica, e a Monalisa, que aparecia fora do quadro do artista.