Viagem

De bike pelas praias isoladas do litoral sul da Bahia

Lá no alto do Quadrado, a vida se arrasta no ritmo de sempre. Mas, no nível do mar, Trancoso exibe sua versão mais isolada e desconhecida.

É nas praias do litoral sul da Bahia, onde carros não entram e banhistas só chegam com certo esforço, que acontecem as travessias em bike, entre Porto Seguro e Caraíva, uma viagem de quase 50 quilômetros, feita sobre duas rodas e combinada com uma trilha, no trecho final.

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Praia de Itaquena (foto: Eduardo Fessoni)

Espere encontrar extensas faixas de areia onde você e seu guia serão os únicos, piscinas naturais que emergem bem na beira da praia, falésias que se erguem sobre nossas cabeças e uma sequência de outros cenários que só podem ser vistos por quem chega a pé ou de bicicleta.

A seguir, você conhece dois roteiros exclusivos a bordo de uma magrela (entre Porto Seguro e Trancoso, e outro dali para a Praia da Espelho), e uma caminhada de 11 quilômetros, entre Espelho e Caraíva.

Litoral sul da Bahia

⇒ Porto Seguro – Trancoso (18,1 km)

A travessia começa em Porto Seguro, o centro nervoso do litoral sul baiano que trocou a serenidade de suas águas mansas para se embriagar na rua que virou passarela, e segue até Caraíva, quase 50 quilômetros depois.

Após cruzarem em balsa o rio Buranhém até Arraial d’Ajuda, os ciclistas seguem pelas areias firmes da praia Apaga-Fogo.

Nessa primeira etapa de seis quilômetros de extensão, os viajantes passam também pelas praias de Araçaípe, Delegado, dos Pescadores, Mucugê, Pitinga e Taípe, todas em Arraial d’Ajuda.

As variações de altitude são pequenas e o terreno é de areia batida, o que facilita bastante, sobretudo quando convenientes ventos dão um empurrãozinho.

Esse trecho é marcado também por longas barreiras de corais que represam águas mornas, em piscinas naturais, e mar de ondas fracas e uma vegetação com amendoeiras e coqueiros, cujas sombras servem de refúgio nas horas de sol forte.

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Praia da Pitinga, em Arraial d’Ajuda (foto: Eduardo Vessoni)

A partir de Pitinga, a jornada ganha cenários mais selvagens, marcados por areia firme, piscinas naturais de águas mornas e ondas fortes que quebram nos recifes que margeiam a orla.

É ali que ficam as falésias recortadas por trechos de Mata Atlântica que se fundem naqueles paredões de tons que vão do mais claro ao alaranjado.

E quando o corpo começa a dar sinais de cansaço, sob sol em posição mais avançada do dia e areias que às vezes travam rodas, a praia de Rio da Barra, na divisa com Trancoso, recepciona ciclistas cansados com a foz que empresta seu nome para o local, cujas águas redesenham, constantemente, as faixas de areia e as praias não podem ser acessadas de carro.

O areião batido recortado por coqueiros segue ajudando nas pedaladas e a sofisticada (e cara) Trancoso vai pintando lá no fundo da praia, cujo primeiro destino é a Praia dos Nativos, a mais próxima do vilarejo.

Depois de quase 20 quilômetros de pedal e 2h16 em constante movimento, os ciclistas tomam a estrada de terra que cruza o rio Trancoso sobre uma ponte rústica de madeira e seguem ladeira acima até o Quadrado, a famosa praça (retangular, é bom lembrar) com as principais atrações desse distrito do município de Porto Seguro, como a igreja de São João Batista, padroeiro local.

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Praia do Espelho (foto: Eduardo Vessoni)

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⇒ Trancoso – Praia do Espelho (20,6 km)

A viagem sobre bicicleta pelo litoral sul baiano segue um roteiro crescente, que começa em praias mais urbanas e continua por áreas isoladas, entre Trancoso e a Praia do Espelho.

O segundo dia é duro e pede concentração para pedalar em terreno de areia fofa, cruzar rios e grandes extensões de praia (quase) sem sombra, e empurrar bicicleta em momentos de natureza teimosa.

Mas todo o esforço será recompensado com baías de águas quentinhas, barreiras de corais na beira da praia e uma sensação de exclusividade que poucos conseguem sentir por ali.

Essa etapa começa com a travessia bucólica em uma ponte de madeira sobre um mangue que dá acesso à Praia dos Coqueiros, a faixa de areia mais próxima a Trancoso.

Dali para frente, a sensação de ser o único vai crescendo, conforme o ciclista avança rumo ao sul e passa por longas extensões de praias com piscinas naturais e quase todas sem acesso para carros, como Itapororoca e Itaquena, essa última localizada em uma área preservada, conhecida como Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades.

A parada seguinte é no Rio dos Frades, um ponto isolado, frequentado apenas por pescadores locais. Ali, é você, sua magrela (que deve ser erguida para cruzar o rio que separa a praia seguinte) e uma cênica faixa de areia que pede uma parada mais longa.

Em dias de maré cheia, é necessário contratar um dos barquinhos dos moradores locais para cruzar o rio (e se você não souber assobiar forte para chamar o pescador na outra margem, programe-se para levar um apito).

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Rio dos Frades (foto: Eduardo Vessoni)

Na sequência, os ciclistas passam também por Jacumã e Curuípe, cujos tons exagerados das águas compensam a rigidez desse que é um dos dias mais exigentes de toda a travessia de três dias pelo litoral sul da Bahia.

A gente já vai quase desistindo de pedalar sob sol forte e extensões de areia que parecem não ter fim, mas o último destino do segundo dia é daqueles lugares que fazem a gente jogar a bicicleta no chão, respirar fundo e apreciar, paralisado, o cenário mais exibido do roteiro: a Praia do Espelho, o nome fantasia da Praia do Curuípe.

Esse pedaço exclusivo do litoral sul baiano é figura fácil nas listas que enumeram as melhores praias do Brasil. E, para se convencer disso, é só subir em algum dos mirantes com vista para aquele mar de tons variados, recortado por falésias, ou se deitar em uma das almofadas espalhadas pelos bares pé na areia do local (todos com cobrança de taxa de uso ou consumo mínimo).

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Praia de Juacema, entre Espelho e Caraíva (foto: Eduardo Vessoni)

⇒ Praia do Espelho – Caraíva (11 km)

No terceiro e último dia de viagem, as bicicletas dão lugar à caminhada que segue até Caraíva, a versão mais rústica e pé na areia de todo o roteiro, onde as magrelas nem sempre são bem-vindas, devido ao terreno arenoso mais instável e trilhas interiores por chão irregular e íngreme.

A sofisticação seletiva da Praia do Espelho vai dando lugar a um cenário selvagem que parece da época em que Cabral aportara por ali, em 1500.

Nesse trecho, o mais isolado e impressionante, os ciclistas passam pela Praia da Juacema, rio Juacema, Lagoa do Satu e Praia da Barra.

E vai se preparando para ver tudo outra vez, como se fosse a primeira.

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Trilha da Praia do Espelho para Caraíva (foto: Eduardo Vessoni)

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Longas faixas douradas, coqueiros retorcidos que quase tocam o mar, águas que vão do verde até tons que a gente não consegue descrever, piscinas rasas para banho e mais nada ou ninguém.

Nem sempre é possível tomar banho de mar, naquelas paragens de mar aberto e agitado, mas Juacema e a Lagoa do Satu servem de refúgio para a hora do lanche de trilha e para mergulhos em águas doces.

Cortado pelo rio de mesmo nome, o distrito de Caraíva vai apontando lá no fundo, isolado de outros endereços baianos que se entregaram às facilidades modernas.

Apesar do turismo de massa que tem ameaçado esse antigo reduto de viajantes alternativos, a 120 km de Porto Seguro, é a Bahia que não deixa a gente querer voltar para casa, que nos convida a caminhar por ruas estreitas de areia que beiram o rio e risca o casario colorido de fachadas simples.

Carros não entram ali, que devem ficar estacionados em Nova Caraíva, na outra margem do rio, e o transporte administrado por pataxós ainda é feito em canoas de madeira, sobre o lombo de animais ou em charretes.

PREPARE-SE

– Não importa o mês do ano para colocar as magrelas na areia. O mais importante é a fase da Lua, como a Cheia e a Nova que proporcionam maiores extensões de areia para pedalar.

– Seja rígido na pedalada, uma vez que a maré costuma cobrir alguns trechos de praia, a partir de certos horários do dia.

– Embora seja difícil ter dias inteiros com chuva, a temporada chuvosa do litoral sul da Bahia costuma ser entre junho e agosto.

– Para participar das travessias de bicicleta não é necessário ser ciclista ou atleta, mas ter bom preparo físico, realizar atividades físicas com frequência e ter, no mínimo, 15 anos de idade.

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foto: Viagem em Pauta

– Como nem sempre é possível passar a noite no hotel de origem, leve uma pequena mochila com roupa de banho, peças leves, protetor solar, boné, repelente e objetos de higiene pessoal.

– Os roteiros não contam com carro de apoio, devido às praias isoladas, mas os grupos de, no mínimo, dois ciclistas são acompanhados por dois guias.

– As reservas devem ser feitas com até 24 horas de antecedência e é recomendável chegar a Porto Seguro um dia antes, pois são roteiros que começam bem cedo.

– Sim, é seguro pedalar naquelas praias isoladas, tanto nas áreas mais urbanizadas como nos trechos em que seguranças de pousadas e residências fazem a vigilância.

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SAIBA MAIS

A agência Bahia Active, especializada em cicloturismo e trekkings, conta com roteiros de diferentes graus de dificuldade e distâncias pela Costa do Descobrimento, origem da história do Brasil e tombada como Patrimônio Natural Mundial pela Unesco.

O serviço inclui seguro individual, traslados, condutor de cicloturismo, lanche de trilha, água e isotônico, e bike com capacete.

bahiaactive.com.br

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