Líder no mercado brasileiro de biodiesel, a companhia gaúcha Be8 avança em um projeto pioneiro na produção de etanol a partir do processamento de cereais. A empresa obteve aprovação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de financiamento no valor de R$ 729,7 milhões para construção de uma fábrica a 20 quilômetros da sede atual, em Passo Fundo (RS), em uma área de mais de 80 hectares. “Nós mostramos, através desse passo, que acreditamos muito no Brasil e apostamos que as políticas públicas serão cumpridas como ações de Estado, olhando para o avanço dos biocombustíveis”, disse à DINHEIRO Erasmo Carlos Battistella, presidente da Be8.
Do total liberado, R$ 500 milhões virão por meio do programa BNDES Mais Inovação, com recursos disponíveis a projetos de inovação, pesquisa e desenvolvimento, como é o caso dessa nova fábrica, alinhados ao plano Nova Indústria Brasil (NIB), lançado recentemente pelo governo federal.
(Anatolii Stepanov)
A perspectiva da Be8 é de processar 525 mil toneladas de cereais por ano para produção de 210 milhões de litros anuais de etanol anidro (que pode ser adicionado na gasolina) e hidratado (consumo direto), o equivalente a 20% da demanda gaúcha. Além do biocombustível, a Be8 também vai produzir glúten, CO2 para a indústria de alimentos e farelo DDGS para alimentação animal. “Na prática, são várias indústrias dentro de um parque industrial”, afirmou o executivo. O trigo deve representar 60% do total de cereais utilizados. O restante deve ficar com triticale, centeio, entre outros.
Com a operação da fábrica, que deve estar concluída em 2026, a expectativa é de que garanta um incremento de cerca de 20% no faturamento do grupo, o que deve significar algo em torno de R$ 1,5 bilhão.
• Em 2022, a empresa alcançou receita de R$ 9,6 bilhões.
• Os resultados de 2023 devem ser apresentados no próximo dia 18, junto com o relatório de sustentabilidade da companhia, mas já há a perspectiva de redução do faturamento, motivado pela queda do valor do biodiesel.
O projeto da nova unidade, segundo Battistella, começou a ser pensado há dois anos. “Começamos a estudar como poderíamos participar do mercado de etanol, visto que o Rio Grande do Sul importa esse produto. Havia espaço para utilização de cereais e fomos buscar tecnologia para isso”, afirmou o presidente.
EMBRAPA
Para desenvolver o projeto, a Be8 firmou parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa-Trigo), que fica em Passo Fundo. “Foi fundamental para desenvolver o programa de etanol no Rio Grande do Sul. Fizemos convênio com a empresa para que sejam desenvolvidas variedades de triticale para nós, com foco na produção do biocombustível”, disse Battistella. “Em poucos anos vamos ver no campo culturas com excelente produtividade para o agricultor. E que também possa haver a melhor conversão do grão em etanol”, afirmou o executivo.
Dados da própria Embrapa mostram que, quando o Rio Grande do Sul produz soja no verão e trigo no inverno, há um balanço positivo de pegada de carbono. A agricultura do estado passa a incorporar mais no solo do que a eliminar.
Além de avançar em um novo mercado, Battistella considera a iniciativa como mais uma contribuição no avanço da descarbonização no País. “Vai contribuir muito. O etanol do Brasil é muito mais eficiente para o carro elétrico, e o benefício é poder utilizar nos modelos híbridos”, disse. “Iremos começar com o anidro, já que há expectativa de aumento do percentual na mistura com gasolina, que esperamos passar de 27% para 35%.”
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