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Experiência de Harrison Ford é a única arma do novo 'Indiana Jones'

(FOLHAPRESS) – Para um filme nostálgico, “Indiana Jones e a Relíquia do Destino” tem um bom ritmo, mas, ainda que sejam fatores distintos, ritmo e nostalgia se confundem no curso da aventura, dirigida por James Mangold. Ambos elementos também são muito associados aos filmes de “Indiana Jones”, mesmo que não definam a franquia. O novo capítulo, porém, pensa o contrário.

Bom exemplo é o prólogo, ambientado nos dias finais da Alemanha de Hitler. A ação gira em torno da briga do herói com os nazistas pela lança que feriu Jesus Cristo, algo que exala o climão da franquia. Mas o Indiana Jones que aparece na tela não é Harrison Ford, intérprete do personagem. É uma versão digitalmente rejuvenescida do ator.

Essa decisão soa estranha -não só porque tanto o rosto quanto o corpo do boneco não convencem o espectador, mas porque o chamariz da produção é a figura de Ford, que envelheceu com o personagem.

A primeira aparição real do ator, dormindo quase nu em uma poltrona e acordado pelos acordes estridentes de “Magical Mistery Tour”, dos Beatles, mostra que o roteiro tem ciência disso. O herói está prestes a se aposentar da universidade onde dá aula.

Essa inércia é desfeita depois que sua afilhada, vivida por Phoebe Waller-Bridge, rouba dele um estranho artefato, feito pelo matemático Arquimedes -o objeto recuperado pelo boneco computadorizado na introdução.

A aparição a fórceps do jovem Indiana Jones no início é então um contrassenso. Ela revela uma falta de sintonia entre corpo e alma que deve incomodar até mesmo a sessão do mais ardoroso fã do personagem.

Comparar a sequência inicial às aberturas dos outros filmes piora a situação. A franquia sempre desfilou temas e referências nos prólogos, desde “Caçadores da Arca Perdida”, de 1981, com clima de aventura e perigo da busca por um ídolo dourado, até “O Reino da Caveira de Cristal”, de 2008, com o encontro da imagem maligna da bomba atômica.

Desta vez, o destaque é o resgate de um passado da franquia, custe o que custar. É uma lógica que, apesar de ser um problema, faz sentido. “A Relíquia do Destino” é o primeiro “Indiana Jones” sem a direção de Steven Spielberg e o envolvimento de George Lucas, que aparecem nos créditos como produtores executivos simbólicos.

James Mangold, o diretor substituto, preenche o espaço com o que mostrou ter domínio. Ele administra um ritmo veloz, similar ao de “Ford vs. Ferrari”, e um melodrama parecido com o de “Logan”.

A questão é que os filmes de Indiana Jones sempre foram feitos das obsessões de seus criadores. Lucas criou o personagem a partir das sessões de matinê que fizeram sua infância, e Spielberg abraçou as histórias no desejo de ter um James Bond para chamar de seu.

Deste encontro saiu o grande balé criativo de forma e conteúdo que definiu a série e influenciou a indústria cinematográfica. Cada capítulo seguia uma dança própria, baseado em temas que povoavam a imaginação da dupla. A base do movimento era a mesma -tirar proveito do ato de criação, fazendo cinema e refletindo suas inspirações com as próprias mãos.

O quinto filme não tem nada disso e, como um falsificador, tenta reproduzir os efeitos ao invés dos mecanismos. A obra parece fiel ao conjunto da franquia. Como os anteriores, o filme tem um bom andamento, empilha cenas de ação e tem nostalgia para garantir a transição.

Mesmo nessas condições, o longa desmancha, em especial porque a aventura, por ironia do destino, só se move para uma direção.

As grandes sequências de ação acontecem à base de velocidade. Elas não estabelecem qualquer outro elemento interessante. Isso é impensável, se considerarmos que os filmes anteriores sempre brincaram com contratempos, desde o avião girando em círculos de “Caçadores da Arca Perdida” até as formigas assassinas de “O Reino da Caveira de Cristal”.

Como o Indiana Jones digital do prólogo, “Relíquia do Destino” é sobre reprodução, não sobre invenção. É um metrônomo, em que a história só acompanha batidas entre ação e humor rápido por duas horas, sem qualquer música para preencher o tempo e o toque-toque incessante.

O filme só não desanda de vez porque impera a imagem de um velho Harrison Ford, o que Mangold ora ou outra deixa aflorar na narrativa.

Ouvir Indiana reclamando de todas as cirurgias que fez ou vê-lo domado por um capanga com o dobro de sua altura -uma situação clássica de emasculação- parece pouco, mas na atuação de Ford ganha outro valor de fragilidade.

Nisso tudo, o filme encerra a história do ator na série, de novo. O que é curioso. Quinze anos depois de “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal”, “Relíquia do Destino” segue o mesmo curso, com poucos fatores alterados. Ambos buscam um desfecho a seu protagonista e abrem caminhos de sucessão -lá um filho perdido, aqui uma nova afilhada.

A diferença é a ausência de Spielberg e Lucas. Sem os criadores, o novo capítulo se acomoda em fórmulas contemporâneas, sem um pingo de interesse pela criação. Agora, o que importa é reiniciar a franquia. Os produtores tentam evitar um desfecho definitivo para o personagem, quase como se forçassem outro fim, mais atemporal e menos arriscado.

O final beira o surreal no clímax, mas termina rendido à impessoalidade. Nesse ponto, “A Relíquia do Destino” é fiel ao título. Seu herói se torna uma relíquia, incapaz de mudança, e seu destino tem que seguir o status, confinado ao museu de nostalgia.

INDIANA JONES E A RELÍQUIA DO DESTINO

Avaliação Regular

Quando Estreia quinta (29) nos cinemas

Classificação 14 anos

Elenco Harrison Ford, Phoebe Waller-Bridge, Mads Mikkelsen

Produção Estados Unidos, 2023

Direção James Mangold

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