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Fórmula E chega a São Paulo para incentivar eletromobilidade e futuro verde nas grandes cidades

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Carros elétricos estão cada vez mais presentes nas ruas do Brasil. Segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), foram emplacados no País, em 2022, 18.806 carros híbridos plug-in e elétricos, cujo aumento foi de 197% em relação ao ano anterior. A preocupação com o alto grau de poluição gerada por carros a combustão atinge as grandes cidades ao redor do mundo, e a Fórmula E, categoria de carros elétricos da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), se tornou um alicerce para integrar as discussões acerca do tema, envolvendo a gestão pública, fabricantes de carros e os fãs de esporte a motor.

Neste sábado, a Fórmula E realiza em São Paulo sua primeira corrida no País. Um circuito de 2,96 km foi montado no Complexo do Anhembi, zona norte da capital. Serão utilizados o Sambódromo, que comporá a maior reta da temporada com 650 metros de comprimento, e a Avenida Olavo Fontoura. Diferentemente do traçado que a Fórmula Indy usou entre 2010 e 2013, com a F-E, a Marginal Tietê não é incorporada à pista. Outra diferença é o sentido do circuito, que deixou de ser anti-horário.

A expectativa da organização é que cerca de 35 mil pessoas acompanhem de perto os carros acelerando. As arquibancadas utilizadas são as mesmas dos desfiles das escolas de samba. A prefeitura de São Paulo afirma que a movimentação financeira provocada pela prova será de R$ 300 milhões, com geração de três mil empregos formais, e justifica o investimento de R$ 38 milhões neste primeiro ano de E-Prix. Com contrato de cinco anos, com possibilidade de extensão por mais cinco, os cofres municipais devem aplicar anualmente R$ 22 milhões na realização do evento nas temporadas subsequentes. O valor se reduz, porque estruturas básicas já foram adquiridas e serão reutilizadas nas próximas corridas. Os fãs que forem para o evento poderão utilizar transporte público gratuito. A prefeitura disponibilizará ônibus elétricos que farão o trajeto entre a estação Portuguesa-Tietê da linha 1-Azul do metrô até o circuito.

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Piloto Sérgio Sette Câmara durante treino livre no circuito do Anhembi. Foto: Felipe Rau/ Estadão

Os pilotos da Fórmula E ficaram um mês se preparando para a prova deste fim de semana. A etapa anterior da temporada foi realizada na Cidade do Cabo, na África do Sul, e apresentou problemas na pavimentação da pista, com muitas ondulações que levaram duas equipes (Mahindra e ABT) a abandonarem o evento por motivos de segurança. Para evitar tais percalços, a organização da prova paulistana aplicou novo asfalto na Avenida Olavo Fontoura e mudou a pintura sobre o concreto do Sambódromo por uma mais rugosa que aumente o atrito e, consequentemente, a aderência dos pneus com o solo.

A Fórmula E teve sua primeira temporada realizada entre 2014 e 2015. Na ocasião, o Rio de Janeiro foi a primeira cidade a firmar contrato para celebrar um E-Prix. No entanto, a prova foi cancelada por questões políticas e conflitos de agenda com outros eventos. Apesar de não correr no País, a F-E logo em sua edição inaugural teve um campeão brasileiro: Nelsinho Piquet, filho do tricampeão mundial de Fórmula 1 Nelson Piquet.

Dois brasileiros compõem o grid atual da Fórmula E. Lucas di Grassi, campeão da temporada 2016-17, tem 38 anos, já correu na F-1 e hoje pilota pela indiana Mahindra. Sérgio Sette Câmara, 24, também passou pela F-1 como piloto de testes, se formou na academia de pilotos da Red Bull. O mineiro está na categoria de carros elétricos desde 2020 e hoje lidera um dos cockpits da chinesa Nio 333.

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Originalmente, o circuito teria uma chicane no meio da reta do Sambódromo, onde fica o recuo da bateria. Mas, por sugestão de Di Grassi, a chicane foi abandonada, permitindo a reta longa. A alteração favorece equipes com motores mais fortes, como a Porsche, que tem o líder do campeonato, o alemão Pascal Wehrlein e o vencedor da última etapa, o português António Félix da Costa.

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PASSADO, PRESENTE E FUTURO

O automobilismo é usado comumente como laboratório das grandes marcas para implementar nas ruas ideias inovadoras testadas inicialmente nas pistas. O câmbio semiautomático, por exemplo, teve origem na Fórmula 1 na década de 1980, com a troca de marchas feita em um câmbio borboleta, nas laterais do volante. Outra invenção mais simples também começou nas pistas de corrida: o espelho retrovisor. O item foi utilizado pela primeira vez na edição inaugural das 500 milhas de Indianápolis, em 1911, e aos poucos foi sendo incorporado nos veículos de passeio e hoje são obrigatórios em qualquer carro.

“Somos o laboratório tecnológico que era a Fórmula 1 há 60 anos. O cinto de segurança, o sistema de refrigeração líquido, o freio ABS, tudo isso que se implementou nos carros de rua vieram da competição, da Fórmula 1?, relembra Álvaro Buenaventura, diretor da F-E na América Latina. “Agora, toda a tecnologia em volta da mobilidade elétrica ainda está engatinhando. Queremos baixar o peso das baterias, aumentar a autonomia e a recuperação de energia por meio do sistema de frenagem. Tem muitas coisas a se fazer. E todas estão em andamento na Fórmula E. Podemos comparar os carros da F-E de 2014 e de 2023, são completamente diferentes”.

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O Climate Group, associação sem fins lucrativos, tem na Fórmula E um de seus embaixadores na missão de encontrar empresas comprometidas com a mudança da motorização a combustão para elétrica e ceder espaço a elas nas grandes cadeias industriais.

Ao lado da SandSi, organização cujo foco é incorporar ao meio esportivo a ideia de sustentabilidade, ajudou a abrir os olhos do mundo do automobilismo para uma necessidade global. A preservação ambiental passa pela colaboração de entidades relevantes, e o esporte é um porta-voz único, capaz de conversas com camadas sociais e etárias distintas em cada uma de suas modalidades. Na Fórmula E, toda e qualquer emissão de poluentes é compensada, seja por meio da reciclagem ou plantio de árvores, por exemplo.

O investimento, associado à sustentabilidade, é capaz de atrair grandes marcas e uma nova geração de fãs que dá muito peso às questões ambientais. A Allianz, que dá nome ao estádio do Palmeiras, comprou os naming rights do Fan Village dos circuitos da F-E. O espaço tem diversas atividades, atrações de lazer, culturais e musicais. “A Fórmula E leva tecnologia e inovação às pistas de todo o mundo. Assim, a companhia reafirma o seu compromisso de contribuir com a promoção e a transformação de uma mobilidade cada vez mais sustentável”, afirma Luiz Rodrigo Cartolano, diretor executivo de Marketing e Transformação da Allianz Seguros.

NA PISTA

A Fórmula E conta com 11 equipes e 22 pilotos. Nesta temporada, a categoria passou por quatro cidades: Cidade do México, Diriyah (Arábia Saudita), Hyderabad (Índia) e Cidade do Cabo (África do Sul), realizando cinco corridas. Após o E-Prix de São Paulo, o circo vai para a Europa, com provas em Berlim e Mônaco. Ainda compõem o calendário: Jacarta (Indonésia), Portland (EUA), Roma (Itália) e Londres (Reino Unido).

Para 2023, a Fórmula E promoveu uma revolução em seu carro. Ele ficou mais enxuto e diminuiu o peso para aumentar sua velocidade, que pode chegar a 320 km/h. Outro fator determinante foi o aumento de potência dos motores, que pode regenerar até 600 kW. A unidade de potência dianteira (250 kW) regenera energia pela frenagem, enquanto a traseira traciona o veículo (350 kW). Durante a prova, os carros não precisam fazer nenhuma parada nos boxes e terão a possibilidade de ganhar potência extra (25 kW) para ultrapassagens ao sair do traçado ideal, no grampo que liga a dispersão do Sambódromo à Avenida Olavo Fontoura (curva 3), no chamado Attack Mode.

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A nova geração de carros da Fórmula E (Gen3) tem revelado novas características a cada prova, mas um fator tem sido fundamental para compreender esse novo momento da categoria. O projeto aerodinâmico do Gen3 favorece as ultrapassagens, por isso não tem sido uma vantagem largar na pole position. Nenhum pole nesta temporada terminou como vencedor da prova. Assim, é imprescindível se manter próximo do carro da frente a todo o instante, para aproveitar o vácuo e atacar no momento certo para não permitir reações.

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As atividades da Fórmula E com a presença de público são reservadas a um único dia. Neste sábado, o segundo treino livre acontece às 7h30, enquanto o classificatório está agendado para 9h40. A largada da corrida, que terá 31 voltas, será dada às 14h. O evento terá transmissão da Band.

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