Motor 2.0 turbo e tração integral voltam ao SUV premium para agradar seus antigos compradores, apesar de mais caro
O A3 foi importante para a Audi ganhar volume no Brasil, mas quem realmente se tornou o Audi mais desejado foi o Q3, o SUV compacto premium mostrado no Brasil em 2012 com motor 2.0 turbo de até 211 cv e câmbio de dupla embreagem com 7 marchas e tração integral. Foi produzido no Brasil de 2016 a 2019, inclusive um tempo com motor 1.4 TSI flex.
Em 2020, a nova geração chega ao Brasil…apenas com motor 1.4 turbo de 150 cv com câmbio de dupla embreagem de 6 marchas e tração dianteira. Os tempos são outros e o cliente Audi, agora em um carro mais caro e procurando sempre mais, não curte a ideia de ter um SUV premium com “motor de VW T-Cross”. E pensando que ele se acostumou com um Audi Q3 2.0 turbo no passado, dá para entender a reclamação.
RG nacional, motor certo
Tanto que a Audi está tratando essa nova linha do Q3 quase como um relançamento do SUV. Existem alguns outros motivos para isso, como o retorno de sua montagem em São José dos Pinhais (PR), em regime SKD com peças importadas da Hungria, e a estreia da Sportback, versão cupê que estava disponível apenas no RS Q3 até então.
O câmbio também é novo. A caixa automática, com conversor de torque, tem 8 marchas e tem pontos positivos e negativos quando o comparamos ao S-Tronic de dupla embreagem. No restante, o Q3 Sportback é basicamente o mesmo carro que conhecemos em 2020, a não ser obviamente pelo caimento da traseira. Plataforma MQB A2, suspensão independente nas 4 rodas, assim como discos ventilados em todas elas, são pontos elogiáveis e conhecidos.
Toda essa teoria forma um conjunto interessante na prática. Desde a primeira geração, o Audi Q3 se destaca pela dirigibilidade e, com a geração feita sobre a plataforma MQB A2, melhorou consideravelmente isso. Para um SUV que não está em sua versão esportiva, o Q3 Sportback dobra pouco a carroceria nas curvas mais fechadas, apesar de uma tendência a sair de frente quando colocado no limite. Mas quando isso acontece, a tração quattro aciona o eixo traseiro, que trabalha sob demanda, para empurrar o SUV para seu lugar.
Não é a tocada do RS Q3, mas tem o DNA da Audi. O lado ruim é que ele sofre um pouco nos buracos mais profundos, não chegando ao final de curso de amortecedores, mas perceptível que algumas buchas e borrachas estão trabalhando mais do que gostariam naquele momento. A direção elétrica é direta, se comunica com o motorista de forma satisfatória e leve em manobras. Para o Brasil, a suspensão foi elevada em 18,5 mm na dianteira e 13,5 mm na traseira.
231 cv que andam, 231 cv que bebem
O Q3 Sportback tem o seletor de modos de condução. No Efficiency, ele privilegia o consumo. O câmbio trabalha em baixas rotações e faz trocas uma sobre a outra de uma forma que pouco se percebe que isso acontece. Suave, a 60 km/h ele já está na sexta marcha e apontando para a sétima, usando o torque em baixas rotações para locomover o SUV de quase 1.700 kg.
Em alguns momentos, ele parece preguiçoso abaixo das 1.500 rpm pelo turbolag, mas ou afunde um pouco mais o acelerador ou faça reduções pelas aletas no volante e ele acorda. Sem eletrificação, o Q3 Sportback ainda depende do câmbio para responder, principalmente em retomadas em rodovias se estiver neste modo mais econômico de condução. Econômico? Não muito, na verdade.
Com gasolina, o Q3 Sportback, no modo Efficiency, marcou 7,7 km/litro na cidade e 12,2 km/litro na estrada, este último ajudado bastante pela oitava marcha que reduz as rotações em velocidade de cruzeiro – a 120 km/h, são 2.000 rpm marcadas no painel. Não são números animadores, mas quando lembramos dos 231 cv, sistema de tração integral (mais pesada e com mais perdas) e 1.700 kg, até que não está longe do esperado, mas a eletrificação já é uma realidade entre os premium.
Q3 de sempre, seja bom ou não tão bom
Até comparado a SUVs compactos generalistas, o Q3 Sportback não é exemplo de espaço no banco traseiro. O Sportback tem trilhos para deslizá-lo, mas serve mais para variar o espaço do porta-malas, que chega aos 530 litros, esse sim um bom ponto dentro do segmento e de seu porte.
O acabamento é bom, apesar de ter mais plástico rígido que o esperado nesta faixa de preço, principalmente no console central e nas portas, que ao menos é emborrachado. O painel de instrumentos de 10,25″ faz par com o sistema multimídia de 8,8″, com espelhamento por fios e sem carregador por indução, além de um ar-condicionado de duas zonas. Seu visual remete ao Q8, o maior SUV da Audi, e é um charme que foge da neutralidade.
Mas não espere um carro barato. A Audi diz que os clientes estão procurando mais o Q3 Sportback, mesmo ele custando R$ 315.990 e R$ 339.990 em duas versões, sendo testada a Performance Black, topo. Tem o pacote visual S-Line interno e exterior, rodas de 19″, teto-solar, porta-malas elétrico, faróis fullLEDs e outros itens. Como opcional para o Performance Black, o pacote Advanced, de R$ 15 mil, adiciona o piloto automático adaptativo, alerta de saída de faixas e o sistema de som assinado pela SONOS.
O Audi Q3 voltou a ser o que sempre gostaram dele, um SUV premium com bom motor e um toque de esportividade tão conhecido da marca. Chega em um momento onde a concorrência já olha a eletrificação, mas não perde seu charme por isso, só o consumo. A carroceria Sportback é a mais procurada nesta nova fase do Q3 e conversa com o estilo mais esportivo de condução. Não é barato, mas é bom.
Veredito
8.0 / 10