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Roteiro de carro pela Serra Fluminense, de Petrópolis a Lumiar

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Os Três Picos são um dos destaques do roteiro pela Serra Fluminense

Em uma votação popular sobre a estrada litorânea mais bonita do Brasil, a Rio-Santos provavelmente ganharia de lavada. Pois a versão serrana dessa preferência rodoviária brazuca é sem dúvida o roteiro de quase 200 quilômetros que sai de Petrópolis, vai atravessando várias estradas que cruzam as montanhas do Rio de Janeiro e, algumas cidades depois, chega a Casimiro de Abreu. Sim, você poderia fazer tudo de uma tacada só, em mais ou menos cinco horas de viagem. Mas tem tanta coisa legal para explorar no meio do caminho que vale a pena passar alguns dias curtindo o fio da Serra Fluminense.

PETRÓPOLIS

Como ponto inicial da viagem, Petrópolis cai como uma luva. Local escolhido pelo Imperador Pedro II para passar os meses de verão, a cidade acabava por abrigar toda a família real e uma pequena multidão de nobres que subiam a Serra dos Órgãos junto com Vossa Majestade. Resultado desse êxodo monárquico: Petrópolis tem palácios e palacetes a perder de vista. Até nosso aviador-mor Santos Dumont construiu uma casa lá, conhecida como “Encantada”, que hoje exibe algumas das invenções do pai da aviação (a casa-museu foi fechada para reformas em fevereiro de 2023).

Uma simples caminhada pela Avenida Koeller e pela Rua da Imperatriz já serve para voltarmos ao passado. Entre essas duas vias, a gótica Catedral de São Pedro de Alcântara exibe o Mausoléu Imperial, com os restos mortais de Dom Pedro II. Reserve duas horas para o Museu Imperial, residência da nobreza nos verões do século 19, e não deixe de visitar o museu da Cervejaria Bohemia, na antiga fábrica de 1853. Tirar uma foto em frente ao Palácio de Cristal é um clássico. Na entrada da cidade, o Palácio Quitandinha remete aos anos 1940, época em que estrelas de Hollywood frequentavam seu cassino.

Se a passagem por Petrópolis acontecer em um final de semana, vale almoçar no Sítio Gastronômico. Situado em uma linda casa de campo, ele muda o seu cardápio todos os meses: por aqui, a pegada é “slow food” e todos os ingredientes vem de produtores locais. Também possui um restaurante muito elogiado o Locanda della Mimosa, hotel que promove ainda degustações de vinho na adega subterrânea. Se quiser pernoitar, algumas suítes possuem lareira e hidromassagem.

Para sentir-se da nobreza, fique no Solar do Império, construção de 1875 no centro. Próximo dali, a Pousada Monte Imperial tem bela vista das montanhas. Busque outras opções de hospedagem em Petrópolis pelo Booking.

ITAIPAVA

Após um tempinho aproveitando o imponente centro histórico petropolitano, hora de pegar a estrada. A primeira perna do roteiro até Itaipava tem duas rotas possíveis, geralmente gastando o mesmo tempo. Mais curto, o caminho pela Estrada União e Indústria (uma das mais antigas do país, inaugurada em 1861) é sinuoso, estreito e bem movimentado, porque dá acesso a vários distritos. Como consolo, as montanhas do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, como o Pico da Alcobaça e a Pedra do Açu, garantem visual arrebatador.

Pegando esse caminho, vale um desvio no distrito de Corrêas. Dali sai a estradinha que sobe ao parque nacional. Em seu início, a Pousada da Alcobaça é uma antiga construção normanda que tem um restaurante aberto ao público e serve comida da vovó – no caso, a proprietária Laura Góes, sempre recebendo bem os visitantes.

Quem prefere rodar em uma velocidade maior deve atravessar o bairro Bingen e seguir pela BR-040, uma moderna rodovia duplicada, único trecho onde o carro pode trafegar a 120 km/h. A Serra dos Órgãos não dá as caras, mas isso pouco quer dizer. Montanhas não faltam nos 18 quilômetros que você percorrerá na estrada. A Pedra Bonita é a mais impactante delas.

Reduto da boa gastronomia, Itaipava é o distrito mais importante de Petrópolis. O Parrô do Valentim serve bacalhau e doces portugueses certeiros. O sequinho croquete de carne faz a fama da Casa do Alemão. O Perugino tem como ponto forte as massas caseiras. No inverno, o Châteaux Bistrot serve um dos melhores fondues da região – no restante do ano, brilha o menu de influências italianas e francesas.

Para se hospedar, o Castelo de Itaipava imita uma construção medieval e a decoração dos quartos segue essa mesma linha. Em um local isolado no meio das montanhas, a Pousada Tankamana compensa o acesso por uma árdua estradinha com muitos mimos para os hóspedes: o café da manhã é servido a qualquer hora do dia nos chalés construídos em pedra e madeira, que agregam lareira e ofurô ou hidromassagem.

TERESÓPOLIS

Prepare-se então para momentos de puro deleite: a travessia entre Itaipava e Teresópolis emociona pelos belos visuais. Quem não tem pernas e preparo físico para atravessar a Serra dos Órgãos a pé, em 42 quilômetros de trekking, pode matar parte da vontade pela estrada de 35 quilômetros, praticamente junto das montanhas.

Não se fie pelos 7,5 quilômetros iniciais até o trevo para o Vale do Cuiabá. Esse trecho é plano e atravessa uma região periférica de Petrópolis. O show começa depois que o piso da rodovia passa a ser concretado. Inicia-se a subida, e o cenário é deslumbrante: de um lado, as montanhas da Serra dos Órgãos; do lado oposto, um vale lindo de morrer esconde várias pousadas charmosas, que agradam os casais.

Também construído durante o Império, o traçado estreito é muito sinuoso. A impressão é de que vamos entrar na montanha – isso quando não parece que vamos despencar serra abaixo. A rodovia não é muito movimentada, mas ultrapassagens são quase impossíveis por lá. Nessas horas agradecemos por ser uma estrada antiga, um caminho feito para o tráfego de cavalos. Fosse hoje, construiriam um moderno túnel cheio de pistas para chegar rápido ao destino. Dois mirantes no alto da serra permitem um pit stop para fotos, contemplação total e até um descanso para o condutor – a subida ao volante exige muito das pernas.

O visual dá uma guinada no trecho de descida a Teresópolis. Saem as vistas panorâmicas, entram em cena inúmeras árvores sombreando o caminho. Por vezes, montanhas ao longe dão as caras, mas a sensação é de atravessar um bosque.

Passar reto por Teresópolis é como perder sete pontos na sua carteira de habilitação. Apesar do nome, não há construções imperiais na cidade. Em compensação, ela é dotada de uma beleza natural digna de uma princesa dos desenhos da Disney. Aqui entendemos o significado do nome Serra dos Órgãos – a mais conhecida formação, o Dedo de Deus, pode ser vista de boa parte da cidade. Mas o melhor local para apreciá-lo é no Mirante do Soberbo, no fim da Rio-Teresópolis. Venta muito por lá, porém a vista é sensacional – em dias bem claros, consegue-se ver ao longe a Baía da Guanabara no horizonte.

Teresópolis também tem a portaria mais acessível do Parque Nacional da Serra dos Órgãos e há algumas trilhas bem fáceis próximas à sede. Viajantes com espírito aventureiro e bom condicionamento físico podem caminhar 11 quilômetros até o ponto culminante do parque, a Pedra do Sino.

Quando bater a fome, saiba que um dos melhores restaurantes russos do Brasil está em Teresópolis. Inaugurado em 1964 pelo casal de siberianos Mikhail e Eupraxia Smolianikoff, o restaurante Dona Irene prepara um banquete russo à moda das refeições servidas aos czares do século 19. A refeição começa com entradas frias e quentes, incluindo borscht (sopa à base de beterraba) e piroskí (pastel de carne), e segue para os pratos principais escolhidos pelo cliente no momento da reserva. Os mais pedidos são o frango à Kiev (peito empanado e recheado com manteiga) e o varênike, massa de pastel cozida com recheio de batata e ervas acompanhada de escalopinhos de filé mignon e cebolas empanadas. A refeição seguinte pode ser na Manjericão, um bom contraponto pelas pizzas leves, sem carne.

Para quem viaja com crianças, o Le Canton é um complexo hoteleiro que remete tanto a uma vila suíça, com construções alpinas e medievais, quanto a um parque temático. O hotel divide-se em três alas. O Village, considerado o centro do complexo, abriga os restaurantes, os bares, o maior número de quartos, o conjunto de piscinas e um castelo medieval, com pistas de boliche, no térreo, e um enorme kids club. O Magique tem temática medieval, a ala mais nova de quartos e um parque de diversão com roda-gigante, trem fantasma, carrinho bate-bate, jogos de realidade virtual e tudo mais. Ao lado encontra-se uma rampa indoor de boias canadenses (para deslizar na neve) e esquis, simulando uma descida no gelo – há até um teleférico alpino para levar os praticantes ao topo. A terceira ala é a Fazenda Suíça, que só abre para hospedagem em determinadas épocas (consulte) e tem minifazenda com cavalos, cabras e galinhas.

Boas alternativas são a Pousada Terê Parque, ideal para quem que sossegar ou se aventurar pelas trilhas ao redor, e a Urikana Boutique, com sauna e sala de relaxamento. Veja outras opções de hospedagem em Teresópolis pelo Booking.

NOVA FRIBURGO

Carinhosamente conhecida por Terê-Fri, a ligação entre Teresópolis e Nova Friburgo é a maior perna do roteiro, com 68 quilômetros. Em termos visuais, o impacto é menor que nos primeiros trechos, mas tem sua beleza. A Serra dos Órgãos ficou para trás. Ainda assim, na estrada o verde é sempre presente. O destaque no horizonte passa a ser os Três Picos, que fazem parte do parque estadual homônimo.

Comer, dormir, comprar e se aventurar: tem tanta coisa para fazer que você poderá ficar dias nesse trecho. No quesito boa mesa, coladinha à estrada, a Fazenda Genève reúne queijaria e restaurante francês, a Cremerie Genève. A quatro quilômetros da Terê-Fri, no distrito de Campanha, a Cachoeira dos Frades garante um momento de relax e contemplação, mas é preciso muita coragem para enfrentar sua água gelada.

Após a divisa com Nova Friburgo, começa um festival de locais para encher o porta-malas. Aliás, essa é uma das forças econômicas desse destino serrano. Em Conquista, ao se deparar com a Casa Suíça nos fundos de um posto de gasolina, entre. O lugar, na verdade, é um complexo turístico com loja/escola de queijos de cabra de tudo quanto é tipo e chocolates (você pode acompanhar a fabricação), ateliê, Museu da Colonização Suíça e Museu da Taxidermia. Dois quilômetros serra abaixo, o Apiário Amigos da Terra é muito mais do que uma loja de mel e derivados. Nos fins de semana e feriados, o proprietário, Luis Moraes, leva visitantes para uma curiosa imersão no mundo das abelhas no Museu do Mel – tem que pagar uma taxa.

Para fechar o capítulo Terê-Fri, quase chegando a Nova Friburgo, o Jardim do Nêgo, em Campo do Coelho, é uma atração inusitada. No meio de um barranco, o artista plástico cearense Geraldo Simplício faz esculturas ao ar livre no terreno usando o barro e as plantas. Todas são figuras gigantes de expressão muito forte.

Nova Friburgo, você vai ver, tem vocação comercial. O lugar é o maior polo de moda íntima do país, com mais de 1 400 confecções espalhadas pela cidade – os bairros de Olaria e da Ponte da Saudade têm maior concentração de lojas. Antes de deixar Nova Friburgo, uma caminhada pelos lagos e jardins do Country Clube é sempre uma boa pedida. Além de a conservação ser impecável, a vista das montanhas ao longe faz o dia ficar mais feliz. Quem quer emoção pode subir uma escadaria de 630 degraus para ter a vista de cima do Pico da Caledônia.

Se a ideia for passar a noite, o Kanawha Hotel hospeda em chalés de madeira com lareira e banheira de hidromassagem. O Hotel Vila Suíça 1818 tem duas piscinas, bar medieval, restaurante e oferece hospedagem grátis para uma criança de até 12 anos, acompanhada dos pais. O Mount Everest, por fim, fica bem no centro da cidade e tem um enorme buffet de café da manhã com saxofonista que toca de mesa em mesa.

Para jantar, a culinária francesa é a base do Crescente Gastronomia.

LUMIAR

Cantada pelo mineiro Beto Guedes – que na letra da famosa música diz como deve ser o lugar –, Lumiar é o próximo ponto de parada. O caminho até lá, apesar do cenário aprazível, pode começar de forma complicada: os primeiros sete quilômetros até Mury são percorridos na estrada que vai para a capital, e talvez haja algum trânsito.

Mury é um dos polos gastronômicos de Nova Friburgo e, quem busca um almoço antes de seguir viagem, encontra boas casas no distrito: o alto-astral da dona, Rosane Salcedo, e os bons pratos são a graça do Viva Rô!.

Mas a ligação Mury-Lumiar parece feita dentro de um bosque. A estradinha estreita e sinuosa é ladeada de árvores. Várias pousadas se estabeleceram em suas margens com a pegada do contato com a natureza e a promessa de um bom banho em uma cachoeira próxima. É o caso da Pousada Fonte Viva, que tem cachoeira privativa, e do Eco Resort Villa São Romão, que oferece luxo no meio do mato.

No km 9,5 da estrada, quem vira à direita segue em direção a Vargem Alta, segundo maior produtor de flores no Brasil, perdendo apenas para a paulista Holambra. Não por acaso essa via chama-se Estrada das Flores. Chácaras e sítios bem floridos pipocam por todos os cantos.

Os versos de Beto Guedes ecoam forte em Lumiar (um lugar pra viver, pra gostar, pra chover, pra vadiar). Percorrer uma das trilhas da APA de Macaé de Cima ou fazer o rafing do Rio Macaé estão no menu de atividades de quem gosta de programas radicais. A cinco quilômetros, São Pedro da Serra completa Lumiar, com vida gastronômica intensa e lojas de artesanato.

Enfim, chegou a hora de descer a serra – de maneira apoteótica. Asfaltada há 17 anos para facilitar a viagem entre a Região Serrana e a Região dos Lagos, a Estrada Serramar, com 37 quilômetros, cumpre a função explicitada em seu nome. Ora à direita, ora à esquerda, o Rio Macaé aparece em vários momentos na estrada. Logo de cara, ocorre o encontro entre ele e o Rio Bonito. Para chegar lá, deixe o carro na estrada, atravesse uma ponte de madeira, vá seguindo por uma trilha até alcançar a confluência dos dois rios: dá para nadar num poço do Rio Bonito, mas, atenção, o Macaé é perigoso. O banho mais seguro é o da Cachoeira Indiana Jones.

No início do trajeto, a Pedra Riscada também faz parte do cenário. A estrada vai correndo entre montanhas e uma dose alta de Mata Atlântica. Com tráfego mínimo de veículos, vira um passeio muito contemplativo. No meio do caminho, fica o mirante para uma cascata tão autossuficiente que é conhecida apenas como Cascata. Contente-se com o mirante: a estradinha de acesso para lá maltrata muito o carro – e o banho não é nada amistoso.

Um pouco antes de chegar ao nível do mar, há um último suspiro. Ex-reduto riponga, o vilarejo do Sana ainda exala uma certa vibe de tranqüilidade. Um enorme jequitibá na rua principal dá as boas-vindas aos visitantes. Por ali, o grande programa é um banho em umas das cachoeiras, como a Escorrega e a Mãe. Já sem grandes apelos visuais, a Estrada Serramar só vai terminar na BR-101, em Casimiro de Abreu.

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