Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular determina redução média de 30% na autonomia informada com base nos testes do Inmetro
Para quem está interessado em um carro elétrico, uma das maiores preocupações é o alcance, ou seja, quantos quilômetros ele pode rodar com uma carga da bateria. Em termos globais, existem diferentes padrões de medição, como os ciclos WLTP, NEDC e EPA, entre muitos outros, e no Brasil temos o Inmetro, que está adotando uma nova regra, um tanto controversa.
Tudo começou com a divulgação dos novos dados oficiais de autonomia que constam no site da Volvo Cars, onde tanto os modelos XC40 Recharge P6 e P8 aparecem com números de alcance até 45% inferiores aos declarados anteriormente, baseados no ciclo WLTP europeu.
Nova medição
De fato, não houve qualquer mudança técnica nesses veículos que justificasse essa alteração. Mas há uma novidade: os dados mais baixos de alcance se devem ao fato da montadora abandonar o padrão global WLTP para adotar a metodologia PBEV (Programa Brasileiro de Etiquetagem veicular) do Inmetro para os veículos elétricos vendidos no Brasil, que prevê, entre outros cálculos, um deságio de 30% em cima dos dados obtidos em laboratório. Outros modelos elétricos, como o Nissan Leaf, também já estão sendo divulgados com os novos números do Inmetro.
Alcance no padrão WLTP | Alcance no padrão Inmetro | Redução | |
Volvo XC40 P8 | 418 km | 305 km | 27% |
Volvo XC40 P6 | 420 km | 231 km | 45% |
Nissan Leaf | 289 km | 192 km | 33% |
Segundo apuramos, o Inmetro está adotando uma metodologia que não foi definida no âmbito do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV), e sim no Programa Rota 2030, por meio de portaria específica, que dita os “procedimentos a serem observados para o cumprimento da meta de eficiência energética”.
Posição da ABVE
Maluf afirma que a ideia é informar a ‘pior’ faixa de autonomia do veículo, considerando que muitas pessoas ainda não sabem como dirigir um carro elétrico de forma a otimizar o alcance, utilizando os modos de condução e a frenagem regenerativa, por exemplo. No entanto, o executivo destaca que ainda não foi publicada a portaria com a nova regulamentação sobre a etiqueta de autonomia dos carros elétricos vendidos no Brasil. Até lá, em tese, as montadoras não seriam obrigadas a informar os dados nesse formato.
Quando isso ocorrer, todas as montadoras que participam do PBEV serão obrigadas a informar os dados nesse novo formato. Como entidade que apoia a mobilidade elétrica, a ABVE se declara a favor de uma padronização na informação sobre alcance dos carros elétricos, mas pondera que isso deve ser feito com critério e razoabilidade.
Anfavea
GWM
Também conversamos com Ricardo Bastos, diretor de relações institucionais e governamentais da GWM, que afirmou que a empresa faz parte do PBEV e já informa os dados pela padronização do Inmetro. No entanto, a montadora trabalha com modelos híbridos e híbridos plug-in, onde a nova regra tem impacto menor em comparação com um carro elétrico, pois são calculados como modelos de propulsão mista.
O executivo se mostrou a favor de uma padronização para a divulgação de informações sobre o alcance dos carros elétricos, mas pondera que a metodologia proposta pode ser melhorada para se aproximar da realidade. Segundo ele, já existe um trabalho junto ao Inmetro para uma mudança nesse índice, mais próximo do real, e desenvolvido em específico para veículos elétricos e que, segundo Bastos, deverá entrar em vigor ainda neste primeiro semestre de 2023.
Vale lembrar que modelos como o recém-lançado BYD Tan e Caoa Chery iCar já utilizam o padrão do Inmetro, mas com a nova regra e o ‘corte’ de 30%, terão o alcance reduzido de 437 km e 282 km, para 306 km e 197 km, respectivamente, o que ainda não foi feito. A conferir.
Brasil, a exceção do mundo
O InsideEVs Brasil apoia que haja uma padronização de informações sobre os carros elétricos vendidos no país, mas que isso seja feito de forma mais objetiva e mais próxima da realidade. Não nos parece razoável adotar um padrão que reduz em pelo menos 30% os resultados obtidos em laboratório, algo que foi desenvolvido para modelos a combustão há muitos anos. Nenhum dos principais ciclos globais (WLTP, EPA, NEDC, CLTC) faz isso, o que seria mais uma peculiaridade brasileira e que, de certa forma, prejudica o crescimento da eletrificação no país.
Vamos continuar acompanhando o desenvolvimento desse tema até o momento da publicação da portaria, e verificar se o Inmetro irá manter esse novo padrão, ou haverá mudanças até lá.
Com colaboração de Nicolas Tavares e Leo Fortunatti